Título: Negócio com brilho ofuscado
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 23/01/2005, Economia, p. A22

Exportação de pedras avança 46% em 2004 mas carga tributária dilapida potencial do setor

Matéria-prima é o que não falta. O Brasil ostenta hoje o título de maior produtor de pedras preciosas do mundo. Mas, apesar de ser responsável por 30% da produção mundial, o setor cresce muito menos do que tanta opulência poderia sugerir. Enquanto o contrabando sangra parte significativa da produção, fazendo com que a informalidade chegue a 50%, o segmento ainda sofre com a falta de uma indústria de lapidação e com a alta carga tributária do setor, que chega a 53%. Alto demais quando comparado a países como Estados Unidos e Japão, com tributação de 8% e 5%, respectivamente.

¿ O Brasil é uma grande província de gemas coradas, mas sofre com a falta de uma indústria de lapidação que seja capaz de calibrar várias pedras com mesmo tamanho. Todas as tentativas de implementação foram frustradas porque a carga tributária é muito alta, além do custo das máquinas. Por isso, acabamos exportando apenas pedras semilapidadas. Com um parque industrial, o valor dos embarques seria muito maior já que teria um valor agregado ¿ explica Walter Leite, especialista do setor.

Em relação ao ano anterior, as exportações de preciosidades como agua-marinha, topázio imperial, turmalina e diamantes cresceram 46% no ano passado, atingindo a marca de US$ 75 milhões. A expectativa é de alta de 20% este ano.

¿ Conseguimos triplicar as exportações durante os últimos oito anos. Mas foi com a desvalorização do Real em comparação ao dólar que as pedras ganharam competitividade no mercado externo ¿ explica Écio Moraes, diretor do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM).

Se, no exterior, as pedras preciosas encantam até mesmo estrelas de Hollywood, no Brasil, as pedras também fazem sucesso.

¿ Adoro as pedras coradas do Brasil. Mas algumas estão muito caras. Por isso, só compro quando tenho dinheiro sobrando ¿ explica a administradora Dolores Claverie de Souza, de 26 anos, enquanto experimentava jóias da Luna, no Rio Sul.

Mais sensível à expansão da renda, o ritmo de crescimento do mercado interno ainda é menor. Espera-se alta de apenas 10% este ano. Em 2004, o faturamento das pedras, contabilizadas dentro do mercado de jóias, atingiu US$ 300 milhões.

¿ Entre o final de 2002 e o início de 2004, houve grandes perdas no mercado interno com as incertezas da eleição de Lula, o que levou a alta considerável nas taxas de juros e comprimiu a renda e, conseqüentemente, o consumo desses produtos ¿ explica Moraes.

Sufocado por uma alta carga tributária, o setor sofre com a falta de um parque industrial de lapidação. Hoje, todo o trabalho é manual.

¿ Atualmente, não há como ter um parque. Seria necessário uma produção em larga escala para compensar as perdas com a alta carga tributária e custos de mão-de-obra ¿ explica Leite.

Narlise Lorenzo, supervisora da joalheria Luna, no Rio Sul, concorda. Para ela, o setor movimentaria cifras maiores com um parque de lapidação.

¿ Temos pessoas que lapidam manualmente nossas pedras. Com máquinas, o trabalho e as vendas seriam mais rápidos ¿ explica Narlise.