Título: Preço do papel agrava a situação
Autor: Guilherme Queiroz
Fonte: Jornal do Brasil, 23/01/2005, Brasília, p. D1

A árvore de Natal improvisada com penduricalhos de garrafas PET e outras quinquilharias encontradas no lixo acaba por simbolizar uma triste virada na sorte dos catadores de material reciclável. Na virada do ano, sem aviso, o quilo do papelão que vendiam a R$ 0,25 até o reveillon não valia mais que R$ 0,09 em 1º de janeiro. O mercado está saturado. Um golpe duro para uma época em que a chuva diminui a qualidade do material coletado. São, portanto, dois fatores a pressionar os preços para baixo. Para os catadores, o ano começou com arrocho na rotina de parcimônia.

Antes da redução nos preços do quilo de papel branco e do papelão - principais fontes de renda dos catadores - Fernando da Conceição Silva conseguia juntar até R$ 500 a cada mês. A renda antiga foi o suficiente para pagar a passagem de ida e volta até Planaltina, onde mora, e pagar o aluguel de R$ 100. Até a última terça-feira, Fernando havia ganho só R$ 62. O racionamento começou pela comida.

- Cuido de cinco irmãos e da minha mãe. E nessa época o lixo fica molhado, diminuindo o valor do que a gente recolhe - queixa-se Fernando.

Resta pouco o que fazer ao catador para driblar a queda no preço do papel. Com uma carroça puxada por um cavalo - método mais produtivo -, o volume de material recolhido diariamente por um catador no Plano Piloto, não ultrapassa os 40 quilos de papel e papelão, em média. Segundo Francisco Marques da Silva, a saída é depender de doações, já que não há como aumentar a produção trabalhando sozinho. Um atraso no projeto de juntar R$ 2 mil para voltar a terra natal.

- Estou há dois anos no DF e até agora, só prejuízo. Quando não são as remoções era o roubo dos meus cavalos. Agora, para piorar, tem a redução no preço do material - lamenta Francisco, que já teve dois animais roubados, um prejuízo de R$ 1.500.