Título: Fluxo só aumenta
Autor: Guilherme Queiroz
Fonte: Jornal do Brasil, 23/01/2005, Brasília, p. D1

A falta de segurança e as condições precárias de saúde fazem parte do cotidiano dos catadores de lixo. Vivendo ao relento, no escuro do cerrado, convivem diariamente com a possibidade de terem os cavalos roubados, um prejuízo que varia em torno de R$ 700 por animal levado. Com as crianças, por sua vez, não evitam o contato com o lixo e desenvolvam problemas como doenças crônicas de pele. Em meio as moscas, a filha de José Severino da Silva, Karine, 10 anos, não pára de se coçar. Cada vez que passa a unha sobre a pele, a antiga casca abre uma nova ferida. Na invasão da 911 Norte, cerca de 30 crianças, a maioria de Brasilinha (GO), acompanha os pais durante as férias escolares. O lazer é brincar ao redor do lixo, ou nas quadras vizinhas. Para ajudar essas crianças, afirma o secretário-adjunto de Ação Social, Paulo Olivieri, não há muito o que fazer.

- Aqueles que têm endereço comprovado no DF são encaminhados aos programas de erradicação do trabalho infantil. Mas só há intervenção se for caracterizado total abandono - explica.

O secretário afirma que já foram feitas várias ações para cadastrar as famílias em programas sociais do GDF. Todos implicam a matrícula das crianças e adolescentes até 17 anos na rede pública de ensino. O problema, relata, é que muitas famílias que moram no cerrado são errantes e há grandes dificuldades em localizá-los. E o afluxo continua, do Entorno e outros estados.

- Hoje há um aparato maior do GDF para atendê-los. Mas, quantos mais são incluídos, mais aparecem - conta Olivieri.