Título: O Destino dos Migrantes
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/01/2005, Brasília, p. D2

Desde os primeiros tempos de Brasília conferiu-se à palavra migrante uma acepção diferenciada. Aplicou-se a denominação aos que chegaram à nova capital com uma mão na frente e outra atrás, em busca de algum trabalho e de melhor qualidade de vida. Os que desembarcaram já contando com um cargo público, com um emprego, com um mandato, às vezes apenas com maior bagagem cultural, são chamados de outra forma, inclusive de doutor, ainda que seu objetivo seja, como os demais, a sobrevivência. Hoje tende-se a chamar de migrante apenas a população de renda extremamente baixa, que se instala em áreas periféricas ou, nesse caso de forma quase clandestina, em barracos escondidos nas áreas de cerrado próximas ao Plano Piloto. Nesse caso, dedicam-se em grande parte à coleta seletiva de lixo, tornando-se mais visíveis à classe média por percorrerem a região central do DF nas carroças que usam em seu trabalho.

Tende-se a cobrar uma ação governamental com relação aos migrantes por duas razões principais - e válidas. Primeiro, por formarem bolsões de miséria, com tudo o que isso tem de ruim, para eles e para o restante da população. Segundo, por representarem com freqüência um forte risco de ocupação desordenada dos espaços urbanos, contrariando tudo o que Brasília representa.

Infelizmente ainda não se encontrou uma fórmula prática e justa para seu futuro. Não são poucos os que propõem uma expulsão sumária, saída discriminatória e que representaria, caso fosse viável, uma condenação à miséria, senão à desnutrição e à doença. Por outro lado, é impossível fechar os olhos e permitir sua livre instalação, o que desfiguraria o DF.

Já se tentaram alternativas ingênuas, como uma transferência negociada para as áreas de origem, em terras cedidas pelo Incra. Não se precisa dizer que meses depois estavam todos de volta. Razão a mais para se continuar em busca de uma solução que seja ao mesmo tempo humana e factível.