Título: Severino: Sociedade apóia aumento para deputados
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/02/2005, País, p. A2

Presidente da Câmara alega que assunto não tem sido bem esclarecido

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), afirmou ontem que ''a sociedade não é contra o aumento dos deputados''. Severino foi eleito presidente da Casa na semana passada tendo como principal promessa de campanha o aumento dos salários dos deputados federais.

Segundo o parlamentar pernambucano, a sociedade aceita o aumento, ''o que ela não aceita é a desonestidade, a roubalheira''. Indagado sobre a sua certeza quanto à aceitação da sociedade deste reajuste, que vai elevar os salários dos deputados de R$ 12 mil para R$ 21 mil, Severino foi enfático:

- É evidente que a sociedade quer. Ela está aceitando. Não tem sido é bem esclarecido. Não existe essa coisa de posição contra. O que a sociedade não aceita é desonestidade, é roubalheira. E se existir isso dentro da Câmara, vou acabar.

Severino almoçou com o comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos da Silva Bueno, e o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Segundo o presidente da Câmara, o encontro foi tranqüilo e só foram tratados assuntos amenos. Severino prometeu combater o troca-troca de partidos e disse que vai procurar o corregedor da Casa para discutir o assunto.

Severino lamentou que haja uma suspeita pairando sobre o Congresso devido às sucessivas mudanças de legenda ocorridas na semana das eleições no Legislativo e afirmou que só vai abrir sindicância se houver denúncia contundente de aluguel de mandato ou oferta de dinheiro para parlamentares trocarem de partido.

A Aldo Rebelo, Severino deixou um recado: o governo Luiz Inácio Lula da Silva coleciona derrotas políticas porque vive ''trancado'' e não se abre a uma verdadeira coalizão.

- Este tema que tem de ser atendido pelo presidente. O que não pode é o governo ficar trancado, reduzido a um pequeno número que só faz ocasionar derrotas - afirmou o novo presidente da Câmara, cuja vitória, há uma semana, é o exemplo mais recente da falta de articulação no Congresso.

Desde então, Severino vem se equilibrando entre um discurso de independência e crítica ao governo com acenos ao Planalto.

Rebelo, apontado por vários petistas como culpado pela derrota na Câmara, não respondeu diretamente a Severino, dizendo só que a conversa foi ''muito boa''.

- Foi uma visita de cortesia à Aeronáutica, em que aproveitamos para discutir a agenda legislativa - disse.

Rebelo citou três projetos prioritários para as próximas semanas: a aprovação do projeto de biossegurança, o novo formato das agências reguladoras e a retomada da reforma tributária, com a unificação do ICMS.

Ontem pela manhã, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que o governo precisa aprender com o episódio.

- Não entendo que a vitória do Severino tenha sido conseqüência só do corporativismo, foi conseqüência do cenário de dificuldade de articulação política e de inserção do governo - disse ele.

Severino já criticou o excesso de medidas provisórias e as ''asneiras'' ditas pelo presidente do PT, José Genoino, mas também mantém pontes com Lula, dizendo que não quer criar ''empecilhos'' ao presidente da República.

Ontem, Severino exercitou sua face mais crítica. Disse que concorda com avaliação de Calheiros, que pediu uma coalizão mais eficiente.

- O Renan é sábio, está falando como amigo - disse.

Severino, que lançou suspeitas de que haveria compra de deputados para ingresso em legendas como o PMDB, mas não apresentou provas, disse que pedirá ao corregedor-geral da Câmara, Ciro Nogueira, (PP-PI), que investigue o assunto.

- Vou consultá-lo, porque isso é atribuição dele. Tenho certeza de que, se ele tiver alguma denúncia, vai investigar - afirmou o presidente da Casa.

Líder do partido de Severino, José Janene (PR), afirmou que vai pedir uma investigação à corregedoria.