Título: Renan pede mais poder para aliados
Autor: Sérgio Pardellas e Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 22/02/2005, País, p. A3

Presidente do Senado avisa que não haverá coalizão se não forem ampliados espaços dos partidos na reforma ministerial

Ao recomendar o remédio capaz de superar a crise de relacionamento entre governo e Legislativo, ontem durante café da manhã com jornalistas na residência oficial, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), aproveitou para ampliar a pressão por mais espaço aos partidos aliados na futura reforma ministerial de Lula. Num recado nada velado ao chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse que ''o PT precisa compartilhar mais o poder com os aliados'', defendendo em seguida a consolidação do chamado governo de coalizão. - O único caminho para o governo de coalizão é a reforma ministerial. O presidente disse que nos chamaria para discutir os detalhes dessa reforma já faz algum tempo. Estamos esperando - disse.

Ciente das divergências de pensamento no seio governista, Renan também considerou fundamental a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na articulação do governo com o Congresso. Mas desde que haja um modelo pré-definido.

- Não dá para fazer aliança circunstancial, sem um modelo programático, definindo qual partido trata de cada assunto. O problema não são as pessoas, mas os métodos - disse Renan, eximindo o ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, da culpa pelo descompasso entre Legislativo e governo.

Em sintonia com Renan, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), também defendeu ontem o modelo de coalizão, por considerar que o governo '' precisa se abrir mais''.

- O Renan é um homem sábio. Este é um governo muito trancado. Isso só leva a derrotas - disse o presidente da Câmara.

As declarações dos presidentes da Câmara e do Senado, além de ampliar a pressão por mais espaço no governo, os aproximam de um desejo já manifestado pelo presidente Lula, ao mesmo tempo em que os colocam em rota de colisão com o chefe da Casa Civil.

Em conversas reservadas com ministros na última semana, o presidente Lula reafirmou a necessidade de governar em parceria com os aliados no chamado governo de coalizão. Para dividir o bolo do poder com os partidos da bancada governista, Lula precisa da compreensão do PT, cioso de seu espaço no governo. E conta com a articulação do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que transita com desenvoltura entre os líderes dos partidos aliados. Dirceu, por sua vez, enxerga temeroso o que avalia como a excessiva concentração do poder político nas mãos da dupla Renan e Aldo. O presidente até concorda que o governo não pode ficar ''refém de Renan''. Mas não está convencido, apesar das pressões do PT, de que a solução passa pela saída de Aldo da Articulação.

Ainda no café da manhã com os jornalistas, Renan também criticou o frenético troca-troca partidário à luz da disputa na Câmara e alertou para a necessidade de uma reforma política, a fim de superar ''a morte definitiva do sistema político-partidário brasileiro que estamos vivendo''.

Sobre as filiações no PMDB patrocinadas pelo ex-governador Anthony Garotinho (PMDB-RJ), o presidente do Congresso lembrou que, se ''Garotinho acha que dá para controlar o PMDB tomando conta da bancada na Câmara'', está fadado ao fracasso. Questionado sobre o fato de ter sido um dos articuladores da entrada de Garotinho no partido, Renan fez referência à máxima cunhada pelo craque Romário: mal entrou no ônibus e já quer sentar na janela. Renan também pontuou suas diferenças com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. Disse ser contra o reajuste salarial para parlamentares e a prorrogação do mandato para seis anos do atual presidente, propostas defendidas por Severino nos últimos dias.

- A coincidência de mandatos não pode ser feita em função da prorrogação dos mandatos existentes. Não pense ninguém que poderá aprovar o que a sociedade não quer, senão desfaz ainda mais a credibilidade que estamos procurando reaver - disse.

Assunto espinhoso para o governo, a limitação de edições de medidas provisórias, foi outro assunto abordado por Renan. Segundo o presidente do Congresso, o excesso de medidas provisórias, que ''limita o papel do legislador e degrada os mandatos'', impõe a criação de uma comissão permanente para analisar a relevância e a urgência das MPs. Na última semana, em conversa com o senador Antonio Carlos Magalhães, Renan propôs a elaboração de um projeto em 20 dias que contemple as sugestões dos parlamentares sobre o tema.

- O ideal é que alternássemos a tramitação. A obstrução das pautas prejudica muito a qualidade dos trabalhos do Legislativo - afirmou.