Título: Divididos, petistas procuram um líder
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 22/02/2005, País, p. A4

Dividida e ainda abalada pela derrota na disputa pela presidência da Câmara, a bancada petista se reúne hoje no esforço para escolher o novo líder. Favorito até a semana passada, o deputado Paulo Rocha (PT-PA), o único a oficializar a candidatura ao posto, esbarra no temor dos colegas em enfrentar novas dificuldades no Parlamento. A esquerda do PT considera não ser este o momento de debater nomes, mas de definir o perfil do novo comandante da bancada. A indefinição quanto à reforma ministerial entra como outro elemento complicador na escolha.

- Não ficaria admirado se não definirmos nada hoje. Todos sabem que é preciso agir com muita cautela - defendeu o deputado Maurício Rands (PT-PE).

Rands explica que o momento vivido pelos deputados do partido - a maior bancada da Câmara, mas sem representantes na Mesa Diretora - faz com que a escolha do novo líder passe por um xadrez político que inclui o comportamento das outras bancadas e até a definição dos novos integrantes da Esplanada.

- A bancada tem que estar atenta aos movimentos do Executivo - completou.

A equação em aberto passa pelo nome do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Nem os mais próximos aliados do Planalto sabem prever o que será feito de João Paulo. Cotado no ano passado para desembarcar no governo a fim de exercer o cargo de coordenador político - no lugar do ministro, Aldo Rebelo - o ex-presidente da Câmara poderá ainda tornar-se líder do governo na Casa ou, numa hipótese mais remota, líder da bancada.

- Seria um ótimo nome, tem trânsito em todos os setores - elogiou a deputada Maninha (PT-DF).

Segundo Maninha, a única justificativa para atrelar-se a escolha da bancada à reforma ministerial seria a possibilidade de João Paulo pleitear o cargo. A parlamentar mantém, no entanto, o discurso dos demais integrantes da esquerda petista: não adianta discutir nomes agora, é fundamental saber o perfil do novo líder a ser indicado. E rechaça com veemência a atitude do ''campo majoritário''.

- Enquanto José Genoino promete uma repactuação com a bancada, José Dirceu reúne-se com um grupo para apoiar Paulo Rocha. Por que não conversa com todos nós? - cobrou.

Há quem defenda que a fatura seja liquidada hoje. O deputado Carlito Merss (PT-SC) lembra que Paulo Rocha sempre foi um articulador político na bancada, colaborando para agregar as diversas tendências partidárias. Mas a proximidade de Paulo Rocha com João Paulo traz receio a outros setores, ressabiados após o fracasso da candidatura Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para a presidência da Casa.

- Se João Paulo virar líder de governo ou até ministro e Paulo Rocha, líder da bancada, o mesmo grupo político continuará articulando os trabalhos na Câmara - justificou um petista.