Título: Agora é cada um na sua praia
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 23/06/2008, País, p. A2

O cenário das eleições municipais de outubro para a disputa pela prefeitura do Rio começou a ser costurado oficialmente. Ontem, PMDB, PV e PT lançaram suas apostas. Os peemedebistas escolheram o ex-secretário de Turismo, Esporte e Lazer Eduardo Paes. O PV confirmou o deputado federal Fernando Gabeira. Os petistas decidiram apoiar o deputado estadual Alessandro Molon. Desde sábado, outros já eram candidatos oficiais: o deputado federal Chico Alencar (PSOL), Vinicius Cordeiro (PTdoB) Felipe Pereira (PSC). DEM irá ratificar Solange Amaral e PRB vai com Marcelo Crivella, o líder. Com exceção do PV, as tão esperadas coligações premeditadas foram para o fundo da praia, e agora, oficialmente, será cada partido com seu candidato.

A partir de hoje, PMDB e PT começam uma nova corrida para fortalecer as campanhas. Ontem, numa convenção acirrada na Câmara de Vereadores, os peemedebistas optaram por Paes, que disputava a indicação com o deputado federal Marcelo Itagiba, ex-secretário de Segurança no governo de Rosinha Matheus. O candidato do PMDB ao Palácio da Cidade, ainda que discretamente, mostrou que deve assumir um tom crítico durante a campanha, apesar de não ter feito promessa.

Molon fez questão de destacar que não enfrenta resistências internas. Estima contar com a simpatia de 25% dos eleitores. Gabeira lançou mão de suas propostas sobre a economia da cidade, que considera estagnada. Aliado do PSDB e PPS, conta com o deputado estadual tucano Luiz Paulo Corrêa como vice.

Com a definição dos candidatos, PT e PMDB centram esforços nas negociações com outras legendas em busca de apoio. O diretório regional do PMDB fecha hoje a política de aliança. As atenções dos peemedebistas estão voltadas para cinco partidos: PP, PSB, PSL, PTB, PMN. O principal interesse é o tempo do horário eleitoral de rádio e na televisão. O PT, que também está isolado, deve tentar seduzir PSB e PDT, que ainda não definiram se lançam candidatos ou se apóiam algum partido.

Apesar das movimentações, o palco eleitoral só estará fechado no próximo fim de semana. No sábado, o senador Marcelo Crivella deve ser oficializado como nome do PRB. No domingo, PSB, PDT e DEM batem o martelo.

PT lança Molon, mas expõe racha no partido

Pedro Vieira

Brigas e discussões marcaram a convenção do Partido dos Trabalhadores ontem, no Clube dos Portuários, na qual o deputado estadual Alessandro Molon saiu candidato à prefeitura do Rio. O petista chegou por volta das 10h, confiante de que, depois de idas e vindas envolvendo seu nome, seria confirmado como nome do PT carioca.

¿ Todas as pedras que surgiram pelo nosso caminho vão servir para que a gente construa uma grande escada para chegar à vitória eleitoral ¿ filosofou Molon, que revelou a sua estratégia para conquistar o eleitor. ¿ É preciso trabalho, sola de sapato e aguardar a televisão. Antes dela é muito difícil crescer nas pesquisas.

O candidato referiu-se ao dia 6 de julho, quando começa o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão.

O petista não soube informar quanto vai gastar na campanha e quem será o vice. De acordo com o candidato, o companheiro de chapa deve ser decidido pelas executivas estadual e municipal. Porém, nem o presidente estadual do partido, Alberto Cantalice, soube responder.

¿ Estamos esperando o PSB e o PDT se decidirem. Podemos lançar vice do próprio PT. O mais cotado é o deputado federal Carlos Santana (PT-RJ) ¿ disse Cantalice.

Apesar da expectativa da presença do ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, somente o do Meio Ambiente, Carlos Minc, compareceu. Minc falou mais sobre o seu ministério do que a candidatura de Molon.

Brigas

A divisão do partido ficou clara logo depois do discurso do ministro Minc. O deputado estadual Jorge Babu foi convidado para integrar a mesa. Assim que seu nome foi anunciado, militantes passaram a vaiá-lo. Um deles xingou o deputado e foi agredido por Luiz Claudio Pereira, assessor parlamentar de Babu.

¿ Foi um gesto de preconceito, e a gente não aceita isso. Se conseguimos fazer uma aliança com o PMDB, por que não fazemos uma aliança interna? ¿ questionou Pereira.

Para Samuel Maia, da executiva estadual do partido, o PT vive ainda muitos conflitos internos.

¿ Três forças políticas do PT, ligadas ao Jorge Bittar, Alberto Cantalice e Carlos Santana, queriam aliança com o PMDB, falando que era estratégica ¿ explicou Maia. ¿ Uma força política discordou, porque o PMDB poderia ser aliado, mas tem adversários do PT no Rio. Logo, não era estratégico.

Samuel Maia afirmou, então, que essa força "sofreu processo de isolamento" no partido. No final, aconteceu o esperado pelo grupo isolado: o PMDB rompeu a aliança com PT.

¿ Aconteceu o problema, que avisamos. Tinham que ter humildade de dizer: "os companheiros que acertaram na avaliação devem agora ajudar na condução política". Mas não fizeram ¿ lembrou Maia. ¿ A briga de hoje aconteceu porque a direção do PT estadual não sabe o que fazer.

Maia deu a receita para o PT vencer as eleições:

¿ A campanha do Molon vai crescer a partir do momento que optarem por incluir todas as forças políticas de dentro do partido.

Paes é confirmado, ainda sob fogo-amigo

Márcio Falcão

O aval do PMDB do Rio para Eduardo Paes brigar pelo Palácio da Cidade veio com folga. Foram 136 indicações, contra 67 do deputado federal Marcelo Itagiba. Mas a confiança dos correligionários depositada nas urnas ainda não é suficiente. Sua candidatura pode enfrentar, a qualquer momento, um pedido de impugnação por conta de sua confusa exoneração do cargo de secretário estadual de Turismo, Esporte e Lazer, publicada um dia depois do prazo permitido, em edição extra do D.O. Há o risco de a iniciativa partir de integrantes do próprio partido.

Ontem, depois de sete horas de convenção, o presidente do diretório regional, Jorge Piccinai, deu o recado e pediu unidade em torno da candidatura de Paes, que conta com o apoio declarado do governador Sérgio Cabral. Outros líderes do partido e até Itagiba fizeram coro.

¿ Vamos enfrentar uma eleição que não será fácil, e para chegarmos lá é preciso estarmos juntos ¿ disse Picciani.

As palavras do presidente regional eram dirigidas ao grupo ligado ao ex-governador Anthony Garotinho, que apoiou Itagiba. Durante a convenção, eles distribuíram panfletos com o resultado de uma consulta feita ao ex-ministro do TSE Torquato Jardim, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral. No parecer, Jardim considera contestável a candidatura de Paes. A exoneração foi apenas mais um aditivo na conturbada pré-candidatura peemedebista que chegou a anunciar alianças com DEM e depois com PT, que acabaram retiradas.

Garotinho, que acompanhou a convenção, mas saiu antes do anúncio, não poupou provocações a Paes e a Cabral. Chegou a insinuar que houve uso da máquina pública a favor do ex-secretário.

¿ Eles jogaram com a máquina pública. Assim é difícil concorrer ¿ declarou o ex-governador, sem confirmar se entrará ou não com algum recurso na Justiça Eleitoral.

Sérgio Cabral, que participou ontem de uma maratona em seis municípios, saiu em defesa de Paes. Sem polemizar, disse que o partido caminha para o amadurecimento.

¿ O tapetão está fora do processo ¿ afirmou o governador.

Depois da confirmação, Paes ¿ que já foi vereador, deputado federal, secretário municipal e estadual¿ não fez nenhuma promessa específica, destacando que deve focar seu programa político nas áreas de saúde e educação.

¿ Mas não podemos esquecer que nenhuma área precisa ser tratada de uma forma diferente ¿ argumentou Paes. ¿ Todas merecem a mesma atenção.

O candidato do PMDB, ainda que discretamente, mostrou que deve assumir um tom crítico durante a campanha. O atual prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), foi um dos alvos escolhidos. Paes frisou que os fluminenses não suportam mais a falta de interlocução entre o município e os governos estadual e municipal.

¿ Não podemos mais viver como se estivéssemos em uma ilha.

Em outro momento, sem fazer referência direta, disse que a morte dos três jovens no Morro da Providência ¿ que foram entregues por soldados do Exército a traficantes ¿ representa a ausência do poder municipal.

¿ Se a prefeitura, que é a instância de poder com maior impacto na vida da população estivesse lá, hoje poderíamos não estar chorando a morte destes três jovens ¿ declarou.

As críticas de Paes também começam a respingar sobre seus adversários. Aproveitando a tragédia na Previdência, o candidato cobrou apuração se há ou não uso eleitoreiro do pré-candidato do PRB, senador Marcelo Crivella que assina o projeto Cimento Social abraçado pelo Ministério da Cidades, fruto da presença do Exército para a comunidade.

Sobre alianças e apoio, Paes preferiu ser discreto, mas avisou que não pretende colar sua imagem à do presidente Lula.

Longe de Ipanema, Gabeira busca eleitores da Zona Oeste

O deputado federal Fernando Gabeira (PV) teve sua candidatura homologada à prefeitura do Rio, durante a convenção realizada ontem no Cassino Bangu, na Zona Oeste. A chapa da coligação PV-PPS-PSDB terá como vice o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB).

O lançamento da candidatura de Gabeira na Zona Oeste foi pura estratégia. Ali, o reduto é do prefeito Cesar Maia, que angaria milhares de votos há anos para o seu partido, o DEM, cuja candidata este ano é a deputada Solange Amaral. Pesquisas nas mãos do PV mostram que o eleitor vê Gabeira como um candidato afinado com a Zona Sul, onde mora e seu principal reduto ¿ apesar de ele ter sido um dos deputados federais mais votados do Estado.

Críticas

Num ato já pré-eleitoral, Gabeira criticou, em seu discurso, a violência contra os moradores do Morro da Providência, onde o adversário Marcelo Crivella (PRB) tem um projeto social tocado com verbas da União. Gabeira lembrou que a campanha eleitoral no Rio começou mal.

¿ A campanha começou manchada de sangue. O sangue dos meninos da Providência ¿ atacou o candidato verde. ¿ A presença do Exército na comunidade é fruto de uma campanha eleitoreira que o governo decidiu proteger era propaganda política, com as fotos do antes e do depois da favela e, ao lado, a foto do candidato ¿ emendou, referindo-se a Crivella.

Para o candidato do PV, o Rio precisa voltar a crescer economicamente. Mas, para isso, a prefeitura deve investir na cidade em vários setores como saúde e transporte.

¿ O Rio tem um grande potencial em áreas como o turismo, resseguro, tecnologia e outros setores. E a prefeitura precisa fazer sua parte. E é isso que estamos propondo ¿ explicou Fernando Gabeira.

No trilho

Gabeira chegou ao bairro de trem. Estava acompanhado do vice na chapa, do deputado estadual José Camilo Zito, presidente regional do PSDB, e de Roberto Freire, presidente nacional do PPS.

Na Zona Oeste Gabeira quer conquistar mais votos, com a chapa oficializada. O deputado Zito foi muito bem votado, apesar de ele ser de Duque de Caxias, cidade da Baixada Fluminense.

¿ Por ter sido prefeito em Caixas, Zito tem uma grande conhecimento da região e poderá nos ajudar bastante durante a campanha mostrando o nosso trabalho¿ garantiu Gabeira.

Alfredo Sirkis, candidato a vereador pelo PV, disse ser fundamental que a população da área tenha maior contato com Gabeira.

¿ É inegável que há uma maior conhecimento do trabalho de Gabeira na Zona Sul e alguns locais da Zona Norte. Agora, é o momento de levarmos sua atuação como deputado federal e os projetos de campanha para a Zona Oeste.

O beijo da mulher-funkeira

A convenção do PMDB no Rio ontem alternou momentos de descontração e tensão ¿ entre críticas pessoais entre adversários ou desencontros ideológicos. Entre altos e baixos do evento, durante todo o dia na Câmara do Rio, houve situações inusitadas. Como o beijo de Eduardo Paes e a vereadora Verônica Costa (PMDB), apresentadora de TV e promoter conhecida como a "Mãe Loura do Funk" carioca.

Eduardo Paes, em discurso, elogiou todos os aliados, sem citar muitos, mas derramou-se pela amiga. Destacou ser ela uma boa vereadora. O partido tem, atualmente, sete vereadores, entre eles Jerominho, suspeito de ligação com milícias.