Título: O sucesso da relação bilateral Japão-Brasil
Autor: Shimanouchi, Ken
Fonte: Jornal do Brasil, 23/06/2008, País, p. A6

Embaixador do Japão no Brasil

Neste centenário da imigração japonesa no Brasil, celebramos um dos grandes exemplos da história contemporânea de intercâmbio sócio-econômico e cultural entre dois povos distintos.

É evidente que os imigrantes japoneses enfrentaram situações austeras em um ambiente adverso, lidando com dificuldades de adaptação, tão comuns a todo povo que migra. Vale lembrar ainda que as diferenças culturais entre japoneses e brasileiros eram mais acentuadas do que as existentes entre brasileiros e imigrantes europeus.

Mas com os esforços dos japoneses e, principalmente, graças à receptividade e à hospitalidade, tão típicas do povo brasileiro, os imigrantes superaram tais dificuldades e, hoje em dia, os nikkeis encontram-se plenamente integrados à sociedade brasileira. É provável que as diferenças e peculiaridades culturais entre os dois povos tenham contribuído para enriquecer o intercâmbio entre ambos os países.

Em abril ocorreu em Tóquio a parte japonesa das comemorações do centenário da imigração e do Ano do intercâmbio Japão-Brasil. Na tarde do dia 24 daquele mês, foi realizada uma solenidade oficial em que estiveram presentes Suas Majestades Akihito e Michiko, o Imperador e a Imperatriz do Japão, Sua Alteza Imperial o Príncipe Herdeiro Naruhito, bem como os chefes dos três poderes do governo japonês, inclusive o primeiro-ministro Yasuo Fukuda. Contamos também com a honrosa presença da ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, a senhora Dilma Rousseff, representando o governo brasileiro. No dia 28 do mesmo mês, foi realizada uma outra cerimônia, desta vez na cidade de Kobe, de onde, há exatamente 100 anos, tinha zarpado o navio Kasato Maru, trazendo os primeiros imigrantes japoneses rumo ao Brasil. E agora em junho, comemoramos no Brasil o centenário da chegada do Kasato Maru em Santos, com a presença do príncipe Naruhito.

A importância dada ao Centenário é um reflexo da importância que a data assumiu para japoneses e brasileiros. No Japão, a participação em uma mesma cerimônia de membros da família imperial e dos representantes da linha de frente do governo japonês é uma circunstância com raros precedentes.

O fundamento das relações entre os países manteve-se incólume a despeito dos eventuais altos e baixos da conjuntura econômica internacional. Isso porque o patrimônio humano é superior a qualquer agenda predeterminada e dele depende a cooperação político-econômica. A presença da comunidade nikkei no Brasil, estimada em 1,5 milhões de pessoas, é a maior no mundo além do Japão.

No ensejo deste Centenário, creio que é oportuno desenhar futuros caminhos para aprofundar ainda mais nossa relação bilateral com base no legado da imigração japonesa. Neste sentido, gostaria de mencionar os três pontos que considero importantes para que o relacionamento entre os nossos países configure um novo status, assumindo as características de uma parceria horizontal.

Em primeiro lugar, é necessário que o Japão e o Brasil aprofundem a cooperação na busca da resolução de questões da agenda global. Japão e Brasil precisam empreender esforços em questões contemporâneas cruciais, como o desarmamento, o desenvolvimento sustentável, a consolidação da paz, o combate ao terrorismo e a proteção dos direitos humanos.

Na condição de país anfitrião da Cúpula do G8 deste ano, o Japão entende que a preservação do meio ambiente e as mudanças climáticas são problemas prioritários. O Brasil, uma potência de recursos ambientais, pode encontrar no Japão, que desenvolveu a mais avançada tecnologia ambiental do planeta, um parceiro no processo para a redefinição do modo de se pensar o meio ambiente, norteando o futuro comum de toda a Humanidade.

O segundo aspecto aponta para o crescimento das relações econômicas bilaterais em termos qualitativos. O Brasil está avançando a passos firmes no processo de conversão de uma estrutura industrial dependente de recursos naturais para o patamar de uma indústrias de produtos de alto valor agregado. É urgente a introdução de tecnologias de ponta no Brasil, e é exatamente aqui que o potencial de cooperação com o Japão torna-se essencial.

E, por fim, o terceiro aspecto refere-se à globalização das relações comerciais entre Japão e Brasil. A nossa cooperação pode alcançar dimensões globais. Empresas japonesas e brasileiras entendem que ambos os países são também bases para o estabelecimento de negócios com os demais países da América do Sul e da Ásia. A parceria entre empresas de nossos países facilitaria em muito o ingresso nos mercados de outros países.

Lembramos neste mês o esforço de imigrantes japoneses e a receptividade brasileira que deram início a um processo que uniria duas culturas tão distintas e geograficamente distantes. É nosso dever, ao honrar a memória desses homens e mulheres, projetarmos nossos pensamentos e esperanças para os próximos 100 anos.