Título: País dependente do financiamento externo
Autor: Saito, Ana Carolina; Cavalcanti, Simone
Fonte: Jornal do Brasil, 23/06/2008, Economia, p. A18

O professor de macroeconomia e pesquisador do Ibmec São Paulo José Luiz Rossi Júnior descarta riscos no curto e médio prazo. No atual momento, avalia, a vantagem é o câmbio flexível.

¿ O câmbio vai se ajustar de maneira suave. Deve se desvalorizar em três anos até se ajustar novamente ¿ afirma.

¿ O Brasil não está predestinado ao buraco, mas não precisa correr riscos ¿ diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor-doutor da PUC-SP, ressaltando que o déficit externo maior do que 3% do produto acende a luz vermelha.

¿ No entanto, depende da percepção do mercado. Hoje, por exemplo, o Brasil é visto como Oásis nessa crise.

Lacerda argumenta que atualmente a prática de países como China, Rússia e Coréia tornou-se um contraponto à visão ortodoxa. Essas nações crescem expressivamente há anos, apresentam superávits em transações correntes e reservas altas.

¿ Há um benefício bem maior do que o custo em carregar as reservas. No caso desses países resume-se em maior crescimento e estabilidade ¿ explica.

Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, faz o contraponto, lembrando que a poupança chinesa gira em torno de 40% do seu PIB e o percentual de investimentos lá é de 30% do produto.

¿ Aquele país está exportando poupança, mas investe muito ¿ diz, ressaltando que, no Brasil, em vez de uma poupança, são os gastos do governo e das famílias que sobressaem. Em 2003, o governo consumiu 19,4% do PIB, as famílias, 62%, e a taxa de investimento foi de 15,3%. Na comparação com este ano, os gastos do governo ficaram estáveis, o das famílias recuou para 61%, mas os investimentos subiram para 18%. Essa diferença foi suprida pelo setor externo.

¿ Se queremos investir mais alguém tem de ceder. A diferença aqui é que o governo é perdulário e aí o financiamento vem de fora.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, faz coro com Schwartsman.

¿ É uma questão de contabilidade. Para manter o crescimento da economia brasileira com a situação fiscal que não melhora de qualidade resta recorrer ao setor externo ¿ diz. ¿ Como a gente sabe que o governo não vai ajudar, haverá, com certeza, déficits em conta-corrente.

Para o economista, apesar de não ser o ideal, pode haver um financiamento com estrutura interessante, uma vez que o Brasil tem hoje melhores condições e é visto de forma diferente do que há alguns anos. Dessa forma, os investimentos de longo prazo podem até amenizar os resultados negativos.