Título: Cresce pressão para saída da Síria
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/02/2005, Internacional, p. A9

Protesto reúne mais de 10 mil libaneses no local onde o ex-primeiro ministro Hafik Hariri foi morto. Damasco nega retirada

BEIRUTE - Convocados pela oposição, cerca de 10 mil libaneses foram às ruas em Beirute para exigir o fim da tutela síria sobre o Líbano e a renúncia do governo pró-Damasco. A manifestação ocorreu justamente uma semana depois do assassinato do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, em um atentado a bomba que deixou 17 mortos e mais de 200 pessoas feridas. Depois de marcharem até o local do atentado, os manifestantes fizeram um minuto de silêncio às 12h55, a hora exata da explosão, sob forte vigilância do Exército e da polícia.

O enorme protesto é mais um sinal do aumento das tensões devido às acusações contra Damasco. Ontem, além de o presidente dos Estados Unidos, George Bush, em visita à Europa, e da França, Jacques Chirac, terem pedido que as tropas sírias saíssem, mais lenha foi jogada na fogueira pelo Ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Jack Straw. Segundo ele, existem grandes evidências da participação síria na morte de Hariri. A União Européia, por sua vez, pediu que seja feita uma investigação internacional, independente, sobre o caso. A Síria reafirmou, no fim do dia, que não vai se retirar do país.

Liderados por deputados da oposição, os libaneses gritavam palavras de ordem hostis à Siria e ao presidente Bachar al-Assad. Usando cachecóis vermelhos e brancos, símbolo do ''levantamento pacífico pela independência'', muitos manifestantes gritavam ''Síria, fora!'', além de insultos pessoais contra o presidente do país vizinho. ''Quem será o próximo a ser assassinado?'', indagavam.

Além de retratos de Hariri, os manifestantes levavam também fotos de personalidades políticas assassinadas durante a guerra civil (1975-1990), como o antigo presidente aliado de Israel e anti-sírio, morto em 1982, Bachir Gemayel, e o chefe da esquerda libanesa Kamal Jumblatt, morto em 1977 perto de um posto de controle sírio. Os manifestantes se dirigiram depois à mesquita onde está enterrado Hariri, passando pelo escritório da ONU, onde uma delegação também entregou uma petição para que seja realizada um inquérito das Nações Unidas.