Título: PCdoB critica, mas não se livra da sombra dos petistas
Autor: Bruno, Raphael
Fonte: Jornal do Brasil, 24/06/2008, País, p. A5

Opção pelos vôos solo ainda é parcial. Um exemplo: São Paulo.

Brasília

O recuo do deputado Aldo Rebelo (SP) e do PCdoB paulista da decisão de lançar candidatura própria e a opção pelo apoio do nome da petista Marta Suplicy para a Prefeitura de São Paulo foi mais um capítulo da longa história da incapacidade da legenda de construir um projeto político autônomo.

Mesmo recheado de críticas à política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e insatisfeito com a hegemonia petista no movimento sindical, o PCdoB se mostra incapaz de romper o cordão umbilical que o liga ao PT há 20 anos e traçar rumos próprios para 2010.

O revés em São Paulo surge justamente no momento em que o partido, seguindo recomendação da Executiva Nacional, mais se esforçava para lançar candidaturas próprias nas principais cidades brasileiras, como é o caso das bem conceituadas em pesquisas de intenções de voto Jandira Feghali, no Rio de Janeiro, e Manuela D"Ávila, em Porto Alegre.

¿ Nosso apoio a Lula não é conjuntural, como é o caso de muitos outros partidos que hoje estão na base do governo ¿ diz, orgulhoso, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. ¿ Estamos juntos desde 1989.

Secretário nacional de Comunicação e espécie de ideólogo da legenda, Altamiro Borges segue na mesma linha.

¿ Acreditamos que a alternativa Lula é a que melhor representa os interesses populares ¿ diz. ¿ Agora isso não retira nossa autonomia para fazer críticas ¿ ressalta.

Divergências

E as críticas não foram poucas. Da política de juros até a reforma da Previdência de 2003, passando pelo compromisso irredutível do governo com o superávit primário elevado e pelas alianças com setores mais conservadores, desde o início do primeiro mandato até hoje a tese oficial do partido é o de que o governo Lula está "em disputa" e que caberia ao PCdoB, juntamente com outros partidos como o PSB e o PDT, "puxá-lo para a esquerda".

¿ Este é um governo híbrido que reflete a atual correlação de forças da sociedade ¿ contemporiza Borges, admitindo que o ideal seria que o governo tivesse apenas um lado ao invés de muitos.

Críticas

Nas publicações e no endereço eletrônico do partido na internet, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é sempre a figura do governo que mais sofre com as críticas.

¿ Falta convicção de um projeto mais avançado de mudanças, um que enfrentasse o capital financeiro ¿ afirma o secretário-nacional da legenda.

Outro foco de incêndio na relação entre as duas legendas é o movimento sindical. Em setembro do ano passado, a Corrente Sindical Classista (CSC), braço sindical do PCdoB, decidiu romper com a a petista Central Única dos Trabalhadores (CUT). O PCdoB acusa a corrente Articulação, do PT, de dominar o aparato da central e impor suas diretrizes à revelia de outros grupos. Em dezembro, juntamente com sindicalistas do PSB e independentes, a CSC fundou a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Mas, apesar das desavenças internas, o PCdoB não hesita em sair em defesa do governo Lula quando as ameaças vêm de fora. No caso das denúncias contra Renan Calheiros (PMDB-AL), por exemplo, o partido chegou ao extremo de defender a tese de que tudo não passava de uma grande articulação entre a oposição e a mídia para enfraquecer Lula. As críticas mais duras a Meirelles parecem rasgados elogios quando comparados aos ataques a partidos como DEM e PSDB.

PAC e políticas sociais

Iniciativas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), as políticas sociais e o fim das negociações em torno da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) são apontadas pelos dirigentes do partido como razões mais do que suficientes para assumir a linha de frente da trincheira governista. Para Renato Rabelo, nenhuma das políticas do governo Lula no segundo mandato entram em "contradição importante" com os princípios do PCdoB.

¿ O governo conseguiu, mesmo sem rupturas com o modelo anterior, retomar um ciclo de expansão da economia combinado com as políticas sociais ¿ sintetiza a visão do partido Renato Rabelo. ¿ Não nos sentimos derrotados em relação aos juros e ao superávit. São questões em que há sempre diferenças de opiniões, que exigem certo consenso que não se faz da noite para o dia para serem alteradas.

Em alguns aspectos, contudo, o partido começa a pagar preços altos pela prontidão em se apresentar como o fiel escudeiro do PT e de Lula, sempre em posição secundária. Nesta semana, a legenda recebeu carta de desligamento de Agnelo Queiroz, um de seus expoentes e ex-ministro dos Esportes do primeiro mandato de Lula.

Queiroz, que em 2006 por pouco perdeu a corrida para o Senado para Joaquim Roriz (PMDB-DF) ¿ que posteriormente renunciaria envolvido em um escândalo ¿, e ocupa cargo de diretor na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, não deixou claras as razões da saída. Nos bastidores, especula-se que o ex-ministro esteja atrás de uma legenda que não lhe negue fogo numa eventual candidatura ao governo do Distrito Federal.

O destino mais provável seria exatamente o PT. Detalhe: em 2006, Queiroz já havia lançado seu nome para o governo local, mas após longa queda de braço com a candidata do PT, a então deputada distrital Arlete Sampaio, abriu mão da cabeça de chapa, contentando-se com a disputa pelo Senado.