Título: Técnica ajuda na gravidez
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 22/02/2005, Saúde & Ciência, p. A12

Procedimento beneficia mulheres que passaram por quimioterapia e não podem mais ter filhos

O congelamento de óvulos é uma boa opção para as mulheres que querem ser mãe depois dos 30, mas temem não conseguir ou trazer riscos ao bebê, ou para aquelas que passaram por quimioterapia ou cirurgia de retirada do ovário e desejam um filho.

O primeiro passo do processo é estimular a produção de óvulos com injeções de hormônio durante 15 a 25 dias. Depois se faz a retirada dos óvulos e a seleção dos mais saudáveis. Posteriormente, são congelados e armazenados em tanques com nitrogênio líquido com temperatura de 196ºC negativos.

A operação requer muito cuidado pois o gameta feminino (célula de reprodução) tem grande quantidade de água no plasma e, ao ser congelado, formam-se cristais de gelo que danificam suas estruturas.

- Um dos problemas de congelar o óvulo é o seu tamanho, muito maior do que o espermatozóide. E a quantidade de citoplasma, líquido que envolve o núcleo - explica Roger Abdelmassih, especialista em reprodução humana que realiza a técnica há três anos em sua clínica.

Por isso, o líquido em que o óvulo é colocado deve ser semelhante ao ambiente ovariano, para que proteínas e a própria membrana da célula não sejam danificadas.

No momento em que a paciente já tiver escolhido o parceiro e quiser engravidar, o óvulo é descongelado e é feita a fertilização in vitro. O espermatozóide é injetado dentro do óvulo e o embrião que se forma a partir desta união é colocado no útero.

No entanto, Abdelmassih lembra que a ocorrência da gravidez depende do embrião nidar, ou seja: grudar no útero, e nem sempre isso ocorre.

O médico conta que já teve uma cliente que teve um bebê, usando a técnica, e atualmente uma de suas pacientes está grávida. Segundo ele, os resultados têm melhorado muito e as taxas de sucesso, ou seja de embriões saudáveis, são de 50%.

Para Maria Cecília Erthal, coordenadora do Centro de Fertilidade da Rede D'Or, a técnica ainda está em fase de padronização científica

- Os centros pioneiros na técnica estão passando agora as informações para a literatura médica. O método tende a se aperfeiçoar cada vez mais.

O ginecologista Paulo Gallo, responsável pelo setor de reprodução do hospital Pedro Ernesto, ressalta as vantagens:

- Com o congelamento de óvulos, não há problema de briga judicial se o marido se separa da mulher, como pode ocorrer com o congelamento de embriões. Além disso, a técnica é menos polêmica, bloqueando questões com a Igreja Católica.

No primeiro caso, Gallo se refere ao fato de que os óvulos são propriedade natural da mulher. No segundo, a questão ética e religiosa é aliviada ja que o óvulo tem 23 cromossomos, em vez dos 46 do embrião.

Na Clínica e Centro de Pesquisa em Reprodução Humana Roger Abdelmassih são cobrados R$ 1 mil por ano pela manutenção do óvulo e cerca de R$ 10 mil para a fertilização in vitro.

O hospital Pedro Ernesto vai inaugurar o Centro de Reprodução Humana, no segundo semestre deste ano. Segundo Gallo, o procedimento será realizado, no Centro, sem nenhum custo para os pacientes.