Título: Condenação, em 2005, também atingiu a cúpula do BC
Autor: Vaz, Paulo Marcio
Fonte: Jornal do Brasil, 26/06/2008, País, p. A6

Salvatore Cacciola fugiu do Brasil em 2000, depois de ficar 37 dias preso ¿ o pedido de prisão preventiva foi feito pelo Ministério Público ¿ e ser solto graças a uma liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello. A liminar foi revogada em seguida, mas o ex-banqueiro, aproveitando-se da dupla cidadania, voou para a Itália. Ao conhecer o paradeiro de Cacciola, as autoridades brasileiras solicitaram sua extradição, negada na época pelo governo italiano.

O caso que levou à condenação o ex-dono do Banco Marka aconteceu em 1999, quando o Banco Central (BC) desvalorizou o Real para proteger a economia brasileira, fragilizada por uma crise financeira que abalou a Rússia em 1998 e se espalhou pelo mundo. Na época, devido ao aumento na cotação da moeda americana, Cacciola pediu ajuda ao BC, alegando não poder honrar compromissos do banco, pois o Marka tinha 20 vezes o valor de seu patrimônio líquido aplicado em contratos de venda no mercado futuro de dólar. Alegando uma tentativa de evitar uma quebradeira no mercado, o BC vendeu dólar mais barato aos bancos Marka e FonteCindam, causando prejuízo bilionário aos cofres públicos.

Denúncias

Meses depois da operação, ocorreram denúncias a respeito de uma suposta compra de informações privilegiadas do BC por Cacciola. O fato resultou no pedido de demissão do então presidente do BC, Francisco Lopes. Uma CPI foi aberta e as conclusões foram de que a operação de ajuda do BC ao Marka gerou um prejuízo de cerca de R$ 1,5 bilhão ao tesouro.

A condenação de Cacciola ¿ julgado à revelia ¿ aconteceu em 2005. A sentença da juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, prevê 13 anos de prisão por crimes de peculato e gestão fraudulenta. Também foram condenados o ex-presidente do BC, Francisco Lopes (10 anos em regime fechado) e a ex-diretora de fiscalização do banco Tereza Grossi (seis anos). Ambos entraram com recurso e respondem ao processo em liberdade. Outros cinco ex-dirigentes do BC também foram condenados a penas que variam de cinco a 10 anos de detenção.

A prisão de Cacciola em Mônaco ocorreu em 15 de setembro do ano passado. Em abril, a Justiça do principado atendeu ao pedido do governo brasileiro e decidiu pela extradição de Cacciola. Porém, seus advogados entraram com um recurso na Suprema Corte de Mônaco, adiando a esperada volta do ex-banqueiro. Na época, o ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou que o Brasil estaria preparado para realizar a extradição num período de 48 horas a partir da decisão final do príncipe Albert II. Antes mesmo de os advogados de Cacciola entrarem com o recurso, Genro já previra que a primeira decisão da Justiça de Mônaco não teria efeito.