Título: BC: inflação exige ação tempestiva
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Jornal do Brasil, 26/06/2008, Economia, p. A17

Banco Central já vê 25% de chances de a taxa ultrapassar o teto da meta, em 6,5%.

Brasília

Diante das constantes pressões inflacionárias tanto no mercado interno quanto externo, o Banco Central admite que as chances de a inflação deste ano estourar o teto da meta ¿ de 6,5% ¿ já é de 25%. A informação consta do Relatório de Inflação trimestral, divulgado ontem. Em março a probabilidade dos preços ultrapassarem a meta era de apenas 4%. O foco de inflação do BC é de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, estabelecido para 2008 e 2009.

Em Londres, o presidente do BC, Henrique Meirelles, mostrou a investidores que a inflação deve ficar abaixo da meta novamente apenas a partir de 2011, de acordo com as expectativas do mercado.

O diretor de Política Econômica da autoridade monetária, Mário Mesquita, insistiu em dizer que o BC fará o possível para controlar os preços via aperto monetário. E admitiu que grande parte do aumento dos preços é oriunda do exterior, principalmente do custo das matérias-primas em virtude da produção de biocombustíveis com milho. Outra parte é atribuída ao aquecimento econômico interno, com destaque para o crescimento da demanda de 8,5% no primeiro trimestre do ano influenciada pelo aumento da massa salarial. Por outro lado, diz, a oferta não acompanha tal movimento.

¿ Isso se nota pela pressão inflacionária e aumento das importações ¿ declarou.

A pressão inflacionária também ameaça o centro da meta para os próximos dois anos. Consta do relatório que o IPCA deve ficar em 4,7% em 2009, acima da previsão de março, de 4,4%. Caso semelhante é desenhado para 2010 quando a inflação deve ficar em 4,8%, o que representa 0,8 ponto percentual acima da indicação de 4% em março. Portanto, o foco de 2010 também pode estar ameaçado se o Conselho Monetário Nacional (CMN) confirmar dia 30 a projeção de 4,5%, conforme prevê a maioria dos analistas.

Fazer o necessário

O prognóstico da autoridade monetária, que leva em conta dados colhidos até o dia 13 deste mês, considera taxa Selic em 12,25% anuais, câmbio em R$ 1,65 e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 5%, cuja previsão foi mantida. A projeção para os preços administrados também foi mantida em 4%, levando-se em conta a ausência de reajustes nos preços de gasolina.

Mesquita afirmou que a instituição está atenta a todos os movimentos de preços e deve agir "tempestivamente" para mitigar as pressões inflacionárias. Em duas reuniões seguidas o BC elevou a Selic em 1 ponto percentual para 12,25%.

¿ O Banco Central fará o necessário, enquanto for necessário para manter as projeções alinhadas às metas inflacionárias ¿ repetiu Mesquita cinco vezes durante à divulgação dos dados, na sede do BC.

O diretor do BC lembrou que em 2005 houve um caso parecido com o apontado para este ano. Na ocasião, diz, se temia superar o teto de inflação de 7%. Mas o BC conseguiu intervir via alta da taxa Selic e trazer a inflação para 5,69%.

¿ No primeiro trimestre de 2005 a probabilidade de superar a meta era de 24%, caiu para 23% no segundo trimestre e para 3% no terceiro trimestre ¿ lembra.

Ao contrário de Meirelles, Mesquita acha que as previsões de inflação tendem a convergir para as metas até 2010. Grande parte da pressão dos preços, conforme admite o diretor do BC, é reflexo do aumento do custo dos alimentos no mercado internacional.

¿ Os alimentos têm pressionado a inflação em escala global. Isso tem a ver com o aumento da demanda e com a restrição da oferta principalmente em economias mais maduras, onde as terras têm enfrentado uma concorrência de grãos, principalmente pelo milho ¿ disse.