Título: Inflação pressiona reajuste de aluguéis
Autor: Dantas, Cláudia
Fonte: Jornal do Brasil, 28/06/2008, Economia, p. A17

Índice acumulado em 12 meses chega a 13,44% em junho, a maior alta desde outubro de 2003

Cláudia Dantas

Os contratos de aluguel que têm vencimento em julho vão sofrer reajuste, por causa da alta registrada no acumulado de 12 meses do IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), de 13,44%. Foi a maior alta registrada há cinco anos, desde outubro de 2003. O índice, que rege boa parte dos contratos, fechou este mês com aumento de 1,98%. Em fevereiro do mesmo ano, o IGP-M atingia a marca de 2,28%, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ). No ano, a inflação chegou a 6,82%.

No entanto, analistas consideram que inquilinos e proprietários devem manter a calma e optar por uma boa dose de negociação. Especialistas ressaltam que a maior ameaça é a inflação de demanda, quando os proprietários ficam ávidos por tentar recuperar as perdas e reajustam os aluguéis com o percentual integral do IGP-M.

¿ Caso isso aconteça, vamos cair no mesmo vício do passado, nos tempos de inflação alta ¿ destaca Rodolpho Vasconcellos, conselheiro da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ). ¿ O pior é ficar com o imóvel vazio, o proprietário tem de reconsiderar, e o inquilino, negociar, porque quase 13,5% pesa no orçamento.

Peso maior

O peso maior do IGP-M está no IPA (Índice de Preços por Atacado), que representa 60% da composição do índice geral, com variação de 2,27% contra 2,01% em maio. Esta alta foi mais intensa agora. Os outros componentes são o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), que responde por 30%, com alta de 0,89%, e o INCC (Índice Nacional de Construção Civil), responde por 10%, e teve alta de 2,67%.

A grande dúvida do consumidor está em saber se a renda vai acompanhar o aumento do aluguel, entretanto Vasconcellos considera que é preciso manter o sangue frio, porque o efeito é localizado, e para "o Banco Central já há prenúncio de arrefecimento".

Salomão Quadros, economista da FGV, ressalta que a desaceleração será gradual. Para o economista, a pressão inflacionária vai persistir até quase o fim do ano, mas deve encerrar 2008 em queda.

¿ Para o próximo ano, esse quadro deve melhorar ¿ prevê.

Para Quadros, o aumento do IGP-M foi pressionado pelo reajuste dos salários na construção civil, mas existem outros elementos que podem puxar o índice para cima, como alimentos.

¿ O maior pico foi agora, mas não estaremos livres das pressões, por isso, cabe às partes sentar e conversar ¿ sugere Quadros.

O economista considera que o país está "no início do ciclo de uma inércia inflacionária". Entre as ações do governo para cortar a inércia, Quadros cita a redução do crédito para conter a demanda dos consumidores, mas ressalta que "não há política fiscal para colaborar com a política monetária".

O professor do Ibmec-RJ, especialista em finanças pessoais, Gilberto Braga, concorda que a pressão da inflação vai se manter até o fim do ano, e o governo deve manter a política de aumento da taxa de juros para conter o consumo e reduzir o crédito.

No entanto, Braga sustenta que a política de governo poderia estar mais avançada, se houvesse mais empenho na redução dos gastos públicos. De todo modo, o professor está otimista. Considera que a oferta habitacional hoje é muito maior que no passado, e a negociação entre locatários e locadores é a melhor saída.

Para início de conversa, Braga sugere que o locatário deve lembrar ao locador, por exemplo, "que não teve reajuste de salário". Além disso, o professor destaca a crescente oferta de imóveis na Zona Norte, Oeste, como opção de mudança.

¿ Existem boas alternativas, e o proprietário, se endurecer, poderá perder o inquilino. Melhor manter o fluxo de entrada de renda do que discutir alguns reais ¿ pondera.

O inquilino Daniel Hess, morador de Laranjeiras, comemora o silêncio da sua administradora.

¿ Meu contrato venceu em março, e até agora não falaram sobre reajuste, eu também não vou tocar no assunto ¿ brinca o analista de sistemas da IBM.

Hess ressalta que na região onde mora, Laranjeiras, Botafogo, Flamengo, a procura por imóveis é grande e, por isso, as administradoras podem não querer renegociar.

O analista conta que os avós, que também moram em imóvel alugado no Flamengo, também tiveram êxito. O proprietário acabou concordando em não repassar o aumento.