Título: Elevador salvou a família
Autor: Gustavo de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 22/02/2005, Rio, p. A13

''Dormíamos profundamente em nosso apartamento na coluna 8, quando o prédio sofreu o primeiro e discreto abalo naquela madrugada de 22/02. O síndico, seu filho Leonel, o Cel. Marcos Silva e mais alguns voluntários foram de porta em porta, acordando a todos para que descessem imediatamente. Não conseguimos acordar, de tão cansados que estávamos, pois tínhamos terminado nossas obras no novo apartamento na véspera da tragédia. Só acordamos às 04h25 com um grande terremoto sacudindo nossas camas. Minha sogra gritava desesperadamente procurando pela Junia, minha mulher, e Junia e eu procurávamos pelo Victor, que dormia no quarto ao lado do nosso, no segundo andar da cobertura. Corremos para a janela e um vizinho do Edifício Estrela do Mar nos viu e gritou para que descêssemos imediatamente, pois o prédio estava caindo.

Minha sogra saiu de camisola, Junia e eu de calça jeans e meu filho desceu apenas de bermudas, portando apenas nossos documentos pessoais e celulares. Do vigésimo segundo andar até o décimo quinto, arrastamos minha sogra, com dificuldade respiratória e osteoporose, enquanto nosso filho iluminava o caminho com uma lanterna. Nesse andar, abri uma porta corta-fogo e de lá eu conseguia ver o céu da Barra, os prédios e a praia. Mostrei a cena apenas para a minha mulher e, desesperados, chamamos o elevador. Não havia outra alternativa. Descemos de mãos dadas e rezando muito. Quando chegamos ao térreo, fomos empurrados pelos assustados bombeiros, que imaginavam não ter mais gente dentro do prédio. Olhamos para aquilo que estava acontecendo, sem entender direito o que houve e imaginando o que poderia ter ocorrido se estivéssemos nas colunas 1 e 2 , onde soubemos que oito pessoas que lá estavam e não tiveram a felicidade e protecão divina para sair daquele inferno. Ficamos também muito chocados quando soubemos que o Leonel, filho do síndico Osvaldo Benavides, havia morrido na tragédia. Ele, que tentou nos salvar, batendo em nossa porta, sem que conseguíssemos escutá-lo.''