Título: Preconceito está presente entre os que querem adotar
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 30/06/2008, País, p. A3

Brasília

Das 80 mil crianças e adolescentes que vivem em abrigos, apenas 10% estão disponíveis para a adoção. A lista de pretendentes a adotar também é grande. O problema, segundo o juiz da Vara da Infância e da Juventude de Florianópolis, Francisco Oliveira Neto, é que a criança desejada não é a que está disponível para adoção.

¿ As pessoas procuram, principalmente, meninas de até um ano de idade, pele clara, sem irmãos e problemas de saúde ¿ explica o magistrado. ¿ Bem diferente do perfil das que se encontram em abrigos que é, em sua maioria, mais velha, de cor parda e com irmãos.

De acordo com o juiz, em Santa Catarina, dos que pretendem adotar, 60% só aceitam crianças com até um ano, 90% não querem crianças inseridas em grupos de irmãos e 95% priorizam a cor da pele.

¿ A pessoa tem o direito de escolher, mas é justamente essa escolha que aumentará seu tempo na fila ¿ pondera.

Para adotar uma menina branca, sem irmãos e com menos de uma ano em Santa Catarina leva-se, em média, quatro anos na fila. Se o pretendente à adoção abrir mão apenas do critério da idade, o tempo de espera pode reduzir-se à metade.

A falta de um cadastro de adoção unificado sempre foi uma barreira no processo. Quem quer adotar um filho precisa fazer várias inscrições. A maioria dos cadastros existentes está restrita aos municípios e são poucas as unidades da Federação que criaram bancos de dados estaduais. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pretende implantar um Cadastro Único de Adoção para que uma única inscrição seja suficiente para o cruzamento de dados.

Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que pretende agilizar a adoção, restringindo a um ano a perda do pátrio poder. O ECA não estabelece prazos. Com isso, a decisão fica com o juiz.

De iniciativa do deputado João Matos (PMDB-SC), a proposição prevê licença-paternidade de 60 dias para homens solteiros e adoção de maiores de 18 anos. O presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), prometeu e não colocou o PL na pauta de votações no último mês de maio.

Levantamento realizado pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) mostra que 57% da população brasileira acreditam que a adoção é a melhor maneira de ajudar uma criança que vive em abrigo, mas apenas 15,5% delas adotariam uma criança.

Intitulada Percepção da População Brasileira sobre a Adoção, a pesquisa revela que as famílias de baixa-renda são as mais dispostas a adotar: 25,9% das que adotariam têm ganho mensal entre R$ 750 e R$ 2.000. Deste grupo, 26% recebem até R$ 750. Apenas 7,9% que manifestam esta intenção têm renda igual ou superior a R$ 7.500. (L. A.)