Título: Avião do tráfico quer seguir carreira militar
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 01/07/2008, País, p. A3

Rio e Brasília

O Departamento Geral de Ações Socio-Educativas (Degase) do Rio de Janeiro está implementando nas unidades uma série de reformas que estão tirando os jovens da marginalidade.

Não são apenas mudanças estruturais, mas também pedagógicas. Além de um alojamento mais confortável e computadores novos nas salas de informática, os adolescentes estão participando de oficinas e voltando a estudar.

Um adolescente de 17 anos, que está há oito meses internado no instituto Escola João Luiz Alves (EJLA) estudava matemática. Ele vai fazer a prova para integrar o Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, da Marinha. Outrora agente do tráfico, o jovem agora aprende com os erros e pensa até na hipótese de fazer odontologia.

¿ A vida é uma escada, eu não percebi isso. Queria pular do primeiro até o último degrau, mas acabei caindo ¿ diz o menino, que se prepara há um mês para o teste.

R.S.A, 18 anos, interno do Centro de Assistência Juvenil Especializada de Brasília (Caje), está freqüentando um cursinho pré-vestibular. Ele conseguiu o benefício por apresentar bom comportamento. Quer fazer medicina e se especializar em cardiologia. R. está no Caje por homicídio. Quando tinha 15 anos, matou um adolescente da gangue rival. "Na hora, não tive noção da m... que eu tinha feito".

R. não mexe mais com drogas e está isolado da más companhias do tempo de criminalidade. Acredita que, independente do tempo em que ficar no Caje, não pagará pelo mal que causou. Mas espera que a sociedade lhe dê uma segunda chance.

F. N. S. não está em um cursinho pré-universitário, mas já sente-se realizado por ter conseguido largar as drogas. Foi sob o efeito delas que ele matou três pessoas e, por isso, ficará até os 21 anos internado.

Quando sair, pretende colocar em prática o que aprendeu nas oficinas de profissionalização, principalmente de marcenaria. E esquecer o passado de criminalidade e violência que sofreu do pai.