Título: Inflação baixa e juro em alta
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 15/02/2005, Economia, p. A17
Apesar da trégua nos preços de janeiro, analistas esperam novo aumento da taxa básica de juros amanhã
O recuo da inflação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi insuficiente para que o mercado reduzisse sua previsão para o resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decide entre hoje e amanhã a taxa básica de juros (Selic) das próximas quatro semanas. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para a meta de inflação do governo, caiu de 0,86% para 0,58% de dezembro para janeiro. Mas, para analistas, uma leitura detalhada dos itens que compõem o índice indica que o resultado ainda está longe do objetivo de 5,1% por ano perseguido pelo Banco Central, o que justificaria manutenção do aperto monetário.
A preocupação reside nos ''núcleos'' do IPCA - recálculos do índice retirando-se itens de grande volatilidade (como alimentos, sujeitos a variações elevadas por conta da safra, ou preços administrados), que podem provocar distorções. Esses indicadores vieram entre 0,55% e 0,66% - muito próximos do índice ''cheio'', o que, na leitura do mercado, significa pressão inflacionária.
- Esses índices são os que, na verdade, indicam o caminho da economia. Eles deveriam estar mais baixos para indicar que a inflação está em tendência de queda. Nossa aposta é em alta de 0,5 ponto percentual na reunião do Copom (o que elevaria a Selic a 18,75% ao ano) - diz a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.
O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, concorda.
- A queda foi bem menor do que esperávamos. Trata-se de um sinalizador preocupante, que significa algum tipo de pressão de demanda - atesta.
A economista do Banco Modal Carla Bernardes lembra que, com os 0,58% registrados pelo IPCA, a inflação anual fecharia a 7,5% - superando em meio ponto o teto fixado pelo Banco Central.
- Contávamos com um IPCA entre 0,5% e 0,6% em janeiro. Veio alto, perto do nosso teto, mas ainda dentro do que imaginávamos. Por isso, não estamos elevando a previsão para o Copom amanhã, mantendo a aposta em alta de 0,5 ponto na Selic - avalia.
Fora do mercado financeiro, no entanto, há apostas até superiores.
- Já iniciamos o ano ''queimando a largada''. Bens de consumo registraram elevação de 2,4%. As reduções de preço foram pontuais e concentradas em produtos com grande peso. Se o Banco Central mantiver o padrão de comportamento nos últimos seis meses, acredito que a alta nos juros possa chegar a 0,75 ponto.
As previsões do mercado para os indicadores no fim do ano se mantiveram elevadas. No Boletim Focus, a projeção de IPCA caiu em 0,01 ponto, para 5,74%, mas ainda permaneceu acima do objetivo de 5,1%. A aposta para a Selic avançou de 16,75% para 16,78%. Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), os contratos DI com vencimento em janeiro de 2006 (o mais negociado) já indicam expectativa de juros em 18,95%, contra 18,7% do último ajuste.