Título: A oportunidade que todo jovem merece
Autor: Luiz Gonzaga Bertelli
Fonte: Jornal do Brasil, 15/02/2005, Economia, p. A18

Nos últimos anos, previsões otimistas sobre o futuro do Brasil voltaram a despontar no cenário internacional, só que desta vez ¿ diferentemente das que pulularam nos anos 70 ¿ vêm carimbadas com data e foco. O Ministério das Finanças da Inglaterra nos vê como líderes da agricultura mundial em uma década. O ano de 2020 será ainda mais marcante nas projeções da Agência Central de Inteligência, a famosa CIA dos Estados Unidos (uma das grandes potências), e do Banco Mundial (décima economia do planeta). Os analistas do Banco Goldman, Sachs miram um horizonte mais distante e arriscam o palpite de que em 2050 o Brasil será a quinta economia do mundo. À parte as dúvidas que cercam esse tipo de previsões, elas continuam a ser utilizadas como subsídio para decisões de investimentos e para definição de políticas comerciais no exterior. Além disso, há sinais consistentes de que o Brasil pode estar entrando numa etapa muito mais saudável de crescimento econômico, em que pese a manutenção da tendência de juros altos e de aumento da carga tributária. No lado social, entretanto, os indicadores continuam preocupantes, em especial na área da educação, que não registra progressos compatíveis com grandes sonhos de futuro e continua órfã de uma política nacional que a coloque como prioridade para o ingresso do país numa fase duradoura de desenvolvimento sustentado ¿ esse, sim o passaporte mais seguro para o futuro que desejamos.

Avaliações internacionais mostram, também, o despreparo dos nossos jovens estudantes para enfrentar a complexidade e crescentes exigências do mercado de trabalho, um desafio que terão de vencer quando saírem da escola, seja para disputar um emprego ou para se arriscar num negócio próprio. Jovens incapazes de fazer uma simples conta de matemática ou de compreender um texto refletem uma triste realidade que devemos lamentar, mas que também temos de superar com a coragem de quem acredita na potencialidade do Brasil e nas qualidades do brasileiro, entre as quais se destacam a criatividade, a flexibilidade e a engenhosidade para solucionar problemas.

Mas aqui também não basta deixar o barco correr, confiando apenas na ¿competência natural¿ do brasileiro, que terá condições muito melhores de desenvolvê-la e aplicá-la se for adequadamente capacitado. Os jovens precisam contar com uma parcela cada vez maior do empresariado nacional que toma para si a responsabilidade de preparar esse futuro profissional. Amparados por agentes de integração e por incentivos governamentais, criam programas de treinamentos que entendem a defasagem entre a realidade e os bancos escolares, capacitando os estudantes paulatinamente no ambiente dos negócios. Só em 2004, mais de 125 mil jovens tiveram a oportunidade de vivenciar a prática do trabalho pelo CIEE.

Só esse dado basta para mostrar que, se quisermos concretizar as previsões animadoras dos analistas estrangeiros, teremos que dar a nossos estudantes a oportunidade de se capacitarem. Para isso, é preciso que a escola, a empresa e o governo continuem a valorizar todos os instrumentos que contribuam efetivamente para a formação dos empreendedores do amanhã.