Título: Situação Caótica
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/02/2005, Opinião, p. D2

Há meses o governo anuncia a reformulação do sistema de transporte urbano. A execução dos planos vem sendo adiada por exigir recursos externos para investimento no setor. As tratativas não avançam e se caminham não é dado conhecimento à opinião pública do estágio em que se encontram, a fim de que uma perspectiva se abra no horizonte. A situação é caótica. A frota do transporte público convencional está visivelmente sucateada. As empresas recorrem à velha alegação de que a concorrência desleal do transporte pirata e das Vans reduz o faturamento, e inibe investimentos. Utilizam ainda relação passageiro por quilômetro rodado para justificar as elevadas tarifas, entre tantos outros desgastados argumentos para tentar explicar o imponderável. Os profissionais também têm qualificação duvidosa no trato com os passageiros. A esperada integração ônibus/metrô está condicionada à construção de uma nova rodoviária, o que torna ainda mais caro o deslocamento do cidadão brasiliense por meio do transporte público.

O cenário é agravado pelas Vans do sistema alternativo. Ignoram não somente o aspecto da urbanidade e rasgam acintosamente regras de trânsito. Desafiam as autoridades policiais e o governo. A cada contrariedade dos seus interesses ocupam órgãos públicos, interrompem o trânsito com manifestações absurdas e seguem na contramão do que seria uma proposta realmente alternativa de transporte público.

Não bastasse, entre os motoristas de Vans há os agressores de portadores de necessidades especiais. Sexta-feira última, a sociedade brasiliense ficou chocada e revoltada com o absurdo espancameto de um cego por uma motorista e uma cobradora, o que revela o absoluto despreparo desses profissionais para lidar com o público. A histórica precariedade do transporte de passageiros, somada aos recentes acontecimentos, não comporta mais qualquer adiamento para uma enérgica intervenção do poder público no setor.