Título: Namorados são executados no Guará
Autor: Leandro Bisa
Fonte: Jornal do Brasil, 15/02/2005, Brasília, p. D2

Polícia suspeita de assalto seguido de morte, mas não descarta a hipótese de que os jovens foram vítimas de ação planejada

Foi da sacada de seu apartamento, na QE 40 do Guará 2, que Rivana Gomes Lucena, 42 anos, viu sua filha e o namorado dela vivos pela última vez. A vendedora Narrinã Gomes Lucena, 21 anos, e o comerciante Fábio Lúcio Saraiva, 27 anos, foram agredidos e sequestrado por três homens armados, 1h de ontem, na rua em frente ao prédio de Rivana. E, para surpresa da mãe de Narrinã, o namorado da filha era noivo de uma outra mulher. Seis horas depois, o casal foi encontrado numa estrada de chão, que liga o Guará ao Setor de Oficinas Sul, ao lado da linha do metrô e próxima à Feira do Guará, cada um com um tiro na cabeça. Pessoas que viajavam no trem viram os corpos caídos ao lado do carro do comerciante, um VW Golf, e ligaram para a polícia.

A polícia não descarta nenhuma hipótese, mas trabalha com a suspeita de assalto seguido de morte. Contudo, existem fortes indícios de que a morte dos dois jovens tenha sido planejada e executada sumariamente.

O episódio deixou a comunidade do Guará receosa. É o segundo crime violento em nove dias. No último domingo, Carlos Alberto de Oliveira, 21 anos, foi espancado até a morte, na QE 15. Este ano, seis pessoas já foram assassinadas naquela cidade.

Quando os corpos foram encontrados, o casal estava abraçado. Não se sabe se foram mortos nessa posição ou assim colocados após serem executados. Os tiros foram dados na parte de trás da cabeça, atravessaram o crânio e saíram pela face. Fábio apresentou ainda várias hematomas, prova de que fora espancado.

Por volta das 9h de anteontem, o comerciante saiu da casa de sua noiva, Flávia de Souza Lima, 23 anos, no Gama. Disse que iria passar em sua locadora, na QE 40 do Guará, pegar alguns filmes, e seguir para a casa de sua mãe, em Ceilândia.

Fábio pegou os filmes, mas foi para a casa de Narrinã, na QE 40 mesmo. Entregou os filmes à vendedora e, segundo Rivana, saíram para lanchar. Por volta de 1h, chegaram. Estavam na frente do prédio, dentro do carro, quando Rivana escutou gritos. Da varanda, ela viu um homem branco, de cabelos lisos, usando calça jeans e camisa preta, e um negro, de jaqueta jeans, ambos aparentando ter entre 20 e 27 anos, agredindo Fábio. Um terceiro homem estava dentro do carro do comerciante.

Rivana gritou para que os agressores parassem. Como resposta ouviu: ''Fica calada, se não vamos pipocá-lo aqui mesmo''. Fábio foi colocado no porta-malas do Golf e Narrinã no banco traseiro. A família ligou para a polícia, que iniciou patrulhamento ostensivo na área. Porém, nada encontrou.

Quando o dia amanheceu, veio a trágica notícia. No local onde os corpos foram achados, se encontraram a família de Narrinã, de Fábio e de sua noiva Flávia, que se mostrou surpresa ao saber que o noivo vinha saindo com outra garota. Ao ver os corpos, ela reconheceu Narrinã. A vendedora era cliente da locadora de Fábio.

Rivana disse que sua filha e o comerciante vinham se encontrando há duas semanas. Entretanto, ninguém na sua casa desconfiava que o rapaz fosse noivo, apesar de Flávia passar algumas horas do dia na locadora, inaugurada há dois meses.