Título: Selic puxa juro do cheque especial para 157,1% ao ano
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 25/06/2008, Economia, p. A17

O aumento da taxa Selic já começou a surtir efeito no custo de captação de crédito. O juro do cheque especial subiu para 157,1% ao ano, taxa considerada "proibitiva" pelo próprio Banco Central. É a maior desde agosto de 2003, quando era de 163,9% segundo a autoridade monetária. À época, a Selic estava em 26%. O juro para essa modalidade de crédito subiu 4,4 pontos percentuais em relação ao mês anterior, avançou 19 pontos entre janeiro e maio e esticou 16,8 pontos nos últimos 12 meses ¿ de acordo com oscilações ocorridas durante o período.

¿ O cheque especial capta mais rápido o aumento da Selic ¿ explicou Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC.

Crédito

As operações de crédito mantiveram em maio a trajetória de alta, mesmo diante do aumento da taxa Selic que já reflete no avanço do custo de captação, principalmente no do cheque especial. Segundo o Banco Central, o volume total de crédito emprestado pelo sistema financeiro alcançou R$ 1,044 trilhão ou 36,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no mês passado, o maior nível desde 1995. O empréstimo destinado a pessoa física totalizou R$ 355,1 bilhões, o equivalente a 12,4% do produto. Ambos percentuais, como proporção PIB, são os maiores desde o início da pesquisa do BC, em 1994. As operações de leasing, feitas para a aquisição de veículos, continuam líderes no ritmo de crescimento em relação às demais modalidades de crédito.

O crescimento de 32,1% do crédito voltado para pessoas físicas nos últimos 12 meses até maio não preocupa o BC, segundo o chefe do Departamento Econômico, Altamir Lopes. Ele já nota uma certa "acomodação" das operações nos últimos dois meses mediante o aumento da taxa Selic.

As operações mensais de crédito crescem desde 2006, quando respondiam por 30,7% do PIB. Segundo o BC, em maio do ano passado o estoque de crédito representava 31,9% do produto. Apenas o destinado à pessoa física respondia por 10,9%. Em abril deste ano, os percentuais eram de 36,2% do PIB ¿ 12,3% para pessoa física e 13,5% para empresas só de recursos livres. O restante é relativo a crédito direcionado, como o concedido pelo BNDES, setor rural e habitação.

A taxa média de juro praticada em todas as operações de crédito, para pessoas físicas e jurídicas, variou para 37,6% anuais em maio. Cresceu 0,2% em relação a abril, 3,8% no acumulado do ano e 0,4% nos últimos 12 meses.

Entretanto, o juro à pessoa física foi atenuado pelo o fim da incidência da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), em abril, sobre o cálculo do custo efetivo do crédito, segundo Lopes. Neste caso, o juro caiu de 47,7%, em abril, para 47,4% em maio. Houve queda de 1 ponto percentual nos últimos 12 meses. Porém, a taxa subiu 3,8% no ano.

Ainda sob o efeito da extinção da TAC, a taxa do spread bancário, diferença entre o que os bancos pagam nos investimentos e o que cobram na concessão do empréstimo, atingiu 24,5 pontos percentuais. Ou seja, caiu 0,5% em relação a abril e 1,5% nos últimos 12 meses. No ano, entretanto, a taxa subiu 2,2%.

Já o juro destinado às empresas cresceu de 26,3% para 26,9% anuais entre abril e maio. O percentual aumentou 4% no acumulado do ano e 2,6% nos últimos 12 meses.

Apesar de permanecer em alta, Lopes disse notar uma desaceleração no ritmo de crescimento dos empréstimos nos últimos dois meses. E negou existir propostas no Banco Central para inibir a concessão de crédito ao consumidor. Ele argumentou que a inadimplência continua estável e o BC mantém a estimativa de chegar a 40% do PIB no fechamento deste ano. Ele disse ainda que as operações de crédito consignado, que até então cresciam a taxas acima de 100% ao mês demonstram estagnação.