Título: Câmara: eleição definirá Esplanada
Autor: Sérgio Pardellas e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2005, País, p. A3

Reforma ministerial dependerá da escolha do presidente da Casa hoje, quando será medida a fidelidade dos partidos ao Planalto

A eleição para a presidência da Câmara, marcada para hoje, é o primeiro passo para a definição do novo perfil da Esplanada dos Ministérios. O governo jogou pesado, colocando seus ministros em campo para atuar junto às bancadas e garantir os votos para o candidato oficial, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). A vitória do petista é tão importante que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou a reforma ministerial para aguardar o resultado da disputa no Parlamento. O grau de fidelidade ao Planalto poderá definir o tamanho do prêmio nas mudanças imaginadas por Lula.

Apesar das contas otimistas de alguns parlamentares favoráveis a Greenhalgh, a vitória ainda não pode ser comemorada. Além dele, disputam o cargo o petista Virgílio Guimarães (MG), os pefelistas José Carlos Aleluia (BA) e Jair Bolsonaro (RJ) e o deputado do PP, Severino Cavalcanti (PE). A enorme quantidade de candidatos, aliada ao fato de o voto secreto deixar margens para traições, pode fazer com que a disputa seja definida só em segundo turno. De qualquer forma, os governistas correm para demonstrar de que lado estão.

- Tirando os partidos de esquerda, que são fiéis por natureza, nós somos, dentro da bancada governista, o partido mais confiável - apressou-se a confirmar o presidente nacional do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP).

Mesmo sendo secreto o voto, Valdemar garante que é possível saber quem vai ''trair''. Acredita que quem deseja desrespeitar as orientações da liderança acaba conversando com seus líderes, para expor o descontentamento. O PL é um dos partidos que tentam manter a situação estável - atualmente, a legenda tem dois ministérios, Transportes e Defesa, ocupado pelo vice-presidente José Alencar.

O PMDB é um partido em ebulição interna. Nas duas últimas semanas, a legenda viveu uma briga fratricida, travada entre os correligionários do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, e o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho. No início da noite de ontem, o PMDB tinha 90 deputados, empatado com o PT na condição de maior bancada. A guerra tem um objetivo claro: destituir o atual líder do partido na Casa, deputado José Borba (PR), aliado do Planalto e afilhado político de Eunício.

- Precisamos saber qual o tamanho real do PMDB que está comprometido com o programa de governo do presidente Lula - reforçou o presidente nacional do PT, José Genoino (SP).

O PMDB hoje controla dois ministérios. Além das Comunicações, a legenda comanda também a pasta da Previdência. Espera ser contemplado com mais um ministério, mais robusto de verba e cargos, e uma estatal, de preferência a Infraero, hoje sob a batuta do petebista Carlos Wilson. Para ficar mais próximo do seu objetivo, porém, terá de despejar a esmagadora maioria dos votos em Greenhalgh. Até ontem, prometiam de 45 a 50 apoios ao candidato petista.

Eunício também garante que o movimento de migração interna não vai atrapalhar o critério de proporcionalidade para as indicações às comissões permanentes da Câmara. Pelo regimento interno, a maior bancada tem direito à primeira escolha - tradicionalmente, a Comissão de Constituição e Justiça, a principal da Casa. O ministro confirmou que existe um acordo para o PMDB abrir mão, caso ultrapasse o PT em número de deputados, deixando para os petistas o privilégio de indicar o presidente da CCJ, mantendo a segunda escolha - provavelmente, a primeira-secretaria da Mesa. Os petistas, contudo, dormem com a barba de molho.

- Vamos ver como as coisas evoluem. Se o grupo do Garotinho vencer a batalha interna, o acordo pode ser ameaçado. Neste caso, não está descartada a possibilidade da formação de blocos - acrescentou o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP).

O PP também terá de angariar mais do que os parcos 15 votos consolidados até ontem, se quiser assegurar o direito de desembarcar na Esplanada na reforma ministerial. No fim do ano passado, uma pasta chegou a ser prometida ao partido, que indicou o então líder, deputado Pedro Henry (PP-MT). A indefinição do Planalto fez com que Henry fizesse jogo duplo, o que poderá transformá-lo na ''viúva Porcina da Esplanada'': a que foi, sem nunca ter sido. Segundo parlamentares pepistas, o ex-líder acabou estimulando a migração de três parlamentares para o PMDB: Alexandre Santos (RJ), Dr. Heleno (RJ) e Lino Rocha.

- O PP pode até conseguir a vaga na Esplanada, mas não será para o Henry - garantiu um parlamentar da cúpula do PP.

O PTB, por sua vez, promete 35 votos dos 51 do partido. Os petebistas articulam nos bastidores para manter sob seu controle o Ministério do Turismo, uma das pastas, além das Cidades e da Previdência, almejadas pela senadora Roseana Sarney (PFL-MA), hoje nome certo para ocupar um ministério na reforma de Lula.