Título: Domingo de intensas negociações em Brasília
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2005, País, p. A3

A véspera da eleição para a presidência da Câmara transformou o domingo em Brasília em um dia de intensas movimentações políticas, que começaram de manhã e foram madrugada adentro. O candidato oficial, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), organizou um churrasco com quase 200 deputados e sete ministros para agradecer o apoio à sua candidatura. Os candidatos do PFL, José Carlos Aleluia (BA) e Jair Bolsonaro (RJ), participaram da reunião da bancada. O deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) passou o dia ligando para os correligionários. E o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) promoveu um jantar dançante num hotel de Brasília.

- As coisas melhoraram. Mas, em toda a eleição, temos que ter sempre uma avaliação pessimista. Quem tem avaliação otimista sempre perde - ensinou o deputado Luiz Antônio Fleury Filho (SP), que participou do churrasco de Greenhalgh.

Em seu discurso aos deputados, o petista confirmou que a campanha começou com dificuldades, mas que foram sendo revertidas ''graças à iniciativa dos deputados e deputadas''. Prometeu mudar a interlocução do Planalto com o governo, estabelecendo uma pauta de trabalho mais legislativa.

- Vamos à luta, nessa mesma guerra, para ganhar amanhã (hoje), em primeiro turno - afirmou.

Em conversas reservadas, os petistas calculam que, com margem de 20% de traição, já que a votação é secreta, podem chegar a 265 votos, suficientes para eleger Greenhalgh em primeiro turno. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), pediu empenho de todos para garantir o princípio da proporcionalidade e a manutenção das regras políticas da Casa, segundo as quais o maior partido tem o direito de indicar o presidente.

- Isso é uma lição para os partidos pequenos e para nós próprios, do PT. Precisamos dar segurança para que amanhã (hoje), em uma alternância de poder, todos estejam comprometidos com esta regra - pediu João Paulo.

O atual presidente elogiou Greenhalgh, lembrando que as viagens pelos estados fizeram com que o petista - com fama de sisudo e pouco afeito aos debates legislativos - conhecesse a realidade política dos deputados, das bancadas e pudesse entender ''o que significa esse mundo chamado Câmara''.

- O próprio Greenhalgh me confidenciou que aprendeu, nestes 30 dias de campanha, mais do que nos seus nove anos de mandato - declarou João Paulo.

Enquanto isto, na Câmara, os candidatos avulsos corriam para tentar impedir manobras de última hora. Pelos corredores da Casa começou a correr um boato de que os envelopes onde são depositadas as cédulas de votação - um para os cargos de presidente e outro para os demais cargos da Mesa Diretora - poderiam ser distribuídos também para as lideranças partidárias.

Assessores da Mesa desmentiram, confirmando que apenas algumas cédulas - cerca de mil delas para cada candidato - poderiam ser distribuídas antecipadamente, numa prática costumeira em eleições deste tipo. Virgílio, Severino, Bolsonaro e Aleluia demonstraram preocupação com a possibilidade de fraude.

- Nós queremos que o processo transcorra com a maior lisura possível. O presidente João Paulo tem que se comportar como um magistrado, não como um cabo eleitoral de Greenhalgh - cobrou um parlamentar que trabalha na campanha de Virgílio.