Título: Kroll investigou lavagem de dinheiro
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2005, País, p. A5

Diálogos telefônicos interceptados pela Polícia Federal revelam apurações paralelas da empresa de espionagem no Brasil

Acusada de formação de quadrilha pela Polícia Federal, a organização criminosa que utilizou a estrutura da empresa Kroll Associates para fazer investigações ilegais no Brasil, além de quebrar sigilos bancários e fiscais, fez apurações paralelas sobre lavagem de dinheiro.

Em um dos diálogos telefônicos interceptados pela Polícia Federal, em março de 2004, o espião da Kroll no Brasil, Tiago Verdial, conversa com o espião da Kroll na Inglaterra, William Goodall, o ''Bill'', sobre as investigações do grupo.

Em certo momento, Tiago fala sobre um funcionário do Ministério Público que ficou de passar para ele um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda que cuida da lavagem de dinheiro.

Este relatório do Coaf é sobre a empresa Tecnosistemi. Na mesma conversa, Bill dá uma bronca em Tiago por não ter feito relatório sobre dois empresários brasileiros. Bill diz que está sendo ''cobrado'' por Carla Cico, presidente da Brasil Telecom e acusada pela PF de liderar, com o dono do grupo Opportunity, Daniel Dantas, a organização criminosa.

Em outra conversa entre os dois espiões da Kroll, Tiago pergunta se Bill foi ao encontro de Carla Cico e ele responde que ligaram remarcando a reunião. Tiago faz referência a outra conversa que tiveram anteriormente, sobre ''encher'' Carla Cico de relatórios.

Outro trecho do diálogo mostra Tiago perguntando pela reunião com ''CC'', abreviatura de Carla Cico, e Bill responde que foi uma boa reunião e que ''o cliente está feliz, muito feliz, animado com as novas pistas da investigação''. Todas estas conversas do início do ano passado foram gravadas durante investigação do caso Parmalat, empresa que também foi bisbilhotada pela Kroll.

Mensagem eletrônica interceptada pela PF em 3 de maio do ano passado volta a mencionar investigações sobre lavagem de dinheiro da Kroll. A mensagem foi recebida pelo espião Tiago Verdial, mas antes tinha sido enviada para Charles Carr. A origem da mensagem teria sido no computador de Alessando Nurnberg. Na mensagem recebida por Tiago Verdial está escrito: ''Penso que você poderia dizer a Carla e a Daniel que estaremos aptos a provê-los com detalhes sobre o envolvimento de Grisendi em práticas de lavagem de dinheiro no Brasil'', referência a Gianni Grisendi, que foi da Parmalat e da TIM no Brasil.

Os principais alvos da organização criminosa eram empresários e financistas brasileiros, além de pessoas em postos-chave, exemplo do ex-presidente do Banco do Brasil, Cassio Casseb.