Título: Câmara: alto custo, baixo retorno
Autor: Victal, Renata
Fonte: Jornal do Brasil, 09/07/2008, País, p. A3

Cada vereador custa R$ 5,9 milhões aos cofres públicos, mas analistas não vêem benefícios Renata Victal As 51 cadeiras da Câmara dos Vereadores serão disputadas a tapa. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ainda não fechou o número de candidatos inscritos, mas no último pleito 1.110 pessoas brigaram por um assento no Palácio Pedro Ernesto. E motivos para tamanha concorrência não faltam. Segundo levantamento de pesquisadores do site Transparência Brasil, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro é a mais cara de todo o país, com um orçamento superior a R$ 298 milhões. Dividido pelo número de edis, atinge-se o montante de R$ 5,9 milhões. Este é o custo de cada mandato de vereador, R$ 900 mil mais alto do que na cidade de São Paulo e mais do que o dobro de Belo Horizonte. O problema, avalia Fabiano Angélico, coordenador de projeto do Transparência Brasil, não é o alto custo, mas o baixo retorno do investimento. ­ Infelizmente não foi uma surpresa para a gente ­ revela Angélico ­ A relação custo-benefício é prejudicial à população. Não se tem o retorno esperado. Falta transparência. A gente nunca consegue saber como este dinheiro está sendo gasto. A internet da Câmara do Rio não disponibiliza todos os dados. Regalias mil O alto orçamento se justifica pelos excessos. Cada vereador pode ter 20 assessores parlamentares. Somados, os salários destes funcionários podem chegar a R$ 70 mil. Há quem garanta nos corredores da Casa que boa parte deste total retorna aos bolsos dos parlamentares. Para checar, basta observar a movimentação bancária de alguns assessores. Quase todos sacam a mesma quantia de dinheiro todos os meses no caixa eletrônico localizado no hall da Casa, sempre no primeiro dia do pagamento. Outro recurso bastante utilizado é dar a alguns funcionários gratificações e depois pegá-las de volta. ­ Somos críticos em relação à prerrogativa de nomear assessores porque eles não trabalham em prol da sociedade, mas nas campanhas de seus contratantes ­ avalia Angélico. ­ As casas legislativas já têm um corpo funcional próprio. Não vejo necessidade de 20 funcionários para cada um dos parlamentares. Além do salário de R$ 9.288,05, cada vereador recebe, por ano, dois salários extras como auxílio paletó (apesar de mais da metade deles não usar roupas sociais no plenário), mil litros de gasolina mensais, quatro mil selos mensais e ainda toda a sorte de suprimento para o gabinete como: 10 resmas de papel por mês, canetas, borrachas, envelopes, pastas, entre outros. ­ Um carro em boas condições faz 10 quilômetros por litro. Com tanto combustível assim, cada vereador teria de rodar 10 mil quilômetros por mês. Praticamente morar dentro do carro ­ critica Fernando Souza/CPDoc JB GAIOLA DAS LOUCAS? ­ O custo de cada vereador em média no Rio é de R$ 5,9 milhões, mais do que os de capitais como São Paulo

Em cinco meses, 22.416 moções e apenas 46 leis Para avaliar a relação custo-be- nefício dos parlamentares do município do Rio de Janeiro, o Jornal do Brasil passou uma semana de- bruçado em números disponíveis no site da própria Câmara e da assessoria de imprensa da Casa. O resultado do cruzamento dos dados é estarrecedor. De 18 de fevereiro, quando começaram os trabalhos deste ano, até o mês de junho, os vereadores entregaram 22.416 moções e tiveram promulgados ou sancionados apenas 46 leis. Como 49 dos 50 atuais vereadores são candidatos à reeleição, o sociólogo e cientista político Gláucio Ary Dilon Soares, diz não ser possível separar a quantidade de homenagens até 5 de outubro. ­ Eles se dirigem às pessoas de forma individual esperando ganhar o voto delas e de suas famílias ­ avalia Soares.­Muita gente se sente especial ao receber uma homenagem nominal. Ao ser informado sobre o volume de moções concedidas em apenas cinco meses, François Bremaeker, consultor do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM) mostrou-se surpreso. ­ Eu desconhecia este número e acredito que a população de uma forma geral também ­ avalia Bremaeker. ­ As pessoas que recebem se sentem honradas, ficam agradecidas. Está claro de que é um jogo político, uma forma de garantir o voto desta pessoa na próxima eleição. É uma distorção. Trabalho acumulado Campeão de moções, com a emissão de 4.915 delas, Alexandre Cerruti (DEM), que não apresentou nenhum projeto de lei este ano, justifica-se com o fato de ter passado quase todo o seu mandato como secretário de Qualidade de Vida. ­ Fiquei quase três anos e meio na secretaria. Voltei agora e tinha muita gente para homenagear. Em segundo lugar no ranking de moções, aparece o vereador Charbel Zaib (PDT), com 3.469 moções, seguido de Silvia Pontes (DEM), com 1.763 unidades, Rogério Bittar (PSB), com 1.556, e Dr. Carlos Eduardo (PSB), com 918. ­ Trabalho muito com juventude e convidava universitários para conhecer o funcionamento da Câmara. Ao final, entregava a eles uma moção de parabéns para incentivá-los a continuar acompanhando o trabalho legislativo ­ justificou Rogério Bittar.