Título: Morre menino de 3 anos ferido em ação da polícia
Autor: Sáles, Felipe
Fonte: Jornal do Brasil, 08/07/2008, Cidade, p. A12

Secretário de Segurança considera desastrosa atuação dos PMs

Felipe Sáles

Mais uma trágica ação da polícia resultou na morte, ontem, de João Roberto Amorim Soares, de três anos. João Roberto vinha de uma festa infantil com sua mãe e o irmão de nove meses quando policiais militares do 6º BPM (Tijuca) confundiram o veículo dos bandidos e dispararam pelo menos 15 tiros contra a família. E enquanto o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, convocava uma entrevista coletiva para pedir desculpas públicas pela ação desastrosa da polícia, na Vila Cruzeiro, na Penha, uma operação do 16º BPM (Penha) resultava em mais uma vítima de bala perdida.

O menino faria quatro anos dia 29 e seu pai, o taxista Paulo Roberto Barbosa Soares, 45, fazia hora extra para pagar uma festa ao filho. João Roberto foi levado para o Hospital do Andaraí, onde fez drenagem no crânio. Às 3h, o menino foi transferido para o Hospital Copa D`or, onde ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva e teve morte cerebral pela manhã. A família decidiu doar os órgãos do menino.

O crime aconteceu às 19h30 de domingo na Avenida General Espírito Santo Cardoso, a dois quarteirões da 19ª DP (Tijuca). Bandidos que haviam assaltado uma padaria fugiram num Fiat Tipo preto e foram perseguidos por policiais. Na Rua Uruguai, Alessandra Amorim, 35, voltava de uma festa infantil junto dos filhos João e Vinícius Soares, de nove meses. Ela estacionou o carro depois de ser ultrapassada pelos bandidos em fuga. Segundo testemunhas e a própria Alessandra, os PMs dispararam pelo menos 15 tiros à queima roupa, acertando até o carrinho de bebê. Alessandra se feriu com estilhaços, enquanto João Roberto levou um tiro nas nádegas, um de raspão na orelha e outro na nuca.

Policiais se confundiram

Em depoimento na delegacia, os PMs disseram que Alessandra ficou no meio da troca de tiros. Beltrame classificou a ação como desastrosa, mas disse ter informações de que de fato houve troca de tiros. A execução do menino, segundo o secretário, aconteceu por uma confusão dos policiais, mas salientou que é irrelevante se o carro da vítima ficou ou não no meio do fogo cruzado.

¿ O policial não tem o direito de errar. Temos de ter discernimento para saber a dosagem da ação ¿ diz. ¿ A informação que eu tenho é que houve troca de tiros. No momento da abordagem é que houve a confusão e a falta de discernimento.

Beltrame frisou, em nome da Secretaria de Segurança, do governo do Estado e da Polícia, que "gostaria de pedir desculpas ao povo fluminense e em especial à família das vítimas pela infeliz ação de um grupo de policiais militares". O secretário admitiu que faltou critério e treinamento aos policiais.

Os dois PMs ¿ que não tiveram os nomes divulgados ¿ estão presos administrativamente no 6º BPM por 72 horas. Eles responderão a um inquérito policial militar e poderão ser expulsos da corporação. Enquanto isso, na Vila Cruzeiro, outra operação resultou em mais duas mortes. Leonardo Silva, 17, foi atingido de raspão na cabeça, e uma mulher de 30 anos não-identificada morreu com um tiro no rosto.