Título: No Japão, com a cabeça em Doha
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Fonte: Jornal do Brasil, 09/07/2008, Economia, p. A20

Países mais industrializados pressionam emergentes pela liberalização das barreiras comerciais

ReutersTOYAKO

Os líderes dos países mais ricos do mundo vão pressionar hoje os dirigentes de China, Brasil e outras economias emergentes a contribuir com a Rodada Doha, a menos de duas semanas de um teste vital para as negociações de liberalização do comércio mundial. Em um encontro marcado de última hora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve pedir hoje empenho ao colega dos EUA, George W. Bush.

¿ Esta pode ser a última chance de selar um acordo, e não devemos perdê-la ¿ disse o presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, cobrando mais concessões dos emergentes a respeito dos mercados industrial e de serviços.

Os membros do G8 manifestaram a necessidade de concluir urgentemente a Rodada Doha, tema que deve ser retomado no encontro com Brasil, China, Índia, México e África do Sul num hotel de luxo de Toyako, no norte do Japão.

¿ Todos os países na sala compartilharam a opinião de que não se trata de algo que os países desenvolvidos podem fazer sozinhos, e sim de que uma Rodada de Doha bem-sucedida depende de as grandes economias emergentes também fazerem sua parte na abertura dos mercados ¿ afirmou Dan Price, consultor do governo norte-americano para questões econômicas.

Começa em 21 de julho reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) que pode ser definitiva para o futuro de Doha, lançada com o objetivo de abrir o comércio mundial.

Mas, caso não surja um acordo de última hora a respeito das questões agrícolas e industriais, as negociações devem ser atropeladas pelo processo eleitoral americano e podem passar anos na geladeira.

União Européia, Estados Unidos e outros países ricos tentam superar as resistências entre os países em desenvolvimento na busca por mais concessões para seus exportadores de produtos industriais e prestadores de serviços.

Já os países emergentes exigem que os ricos abram mão de subsídios e tarifas agrícolas, que tolhem suas exportações rurais.

"Os países desenvolvidos devem desmantelar barreiras e distorções, especialmente os subsídios à agricultura e o apoio doméstico que afetam os esforços gerais dos países em desenvolvimento", apontaram os cinco emergentes em nota preparatória para o evento.

Encontro

A Rodada de Doha de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) deve ser o principal tema do encontro entre o presidente Lula e o colega americano, George W. Bush, hoje, à margem da cúpula do G8. No encontro, Lula deve pedir empenho extra de Bush nas negociações sobre a Rodada.

¿ Acho que o Brasil já avançou praticamente tudo o que podia avançar e, agora, vamos ver o que vamos obter em agricultura para ver se isso ajuda a convencer outros países de que a negociação vale a pena ¿ disse o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores).

O Brasil precisa convencer a Argentina, parceira de Mercosul, de que os ganhos para a produção agrícola dos países do bloco compensam uma maior abertura do mercado regional para produtos industrializados dos países desenvolvidos.

Segundo Amorim, o Brasil já aceitou "uma certa barganha" entre as listas de produtos considerados sensíveis e os coeficientes de corte de tarifas de forma a preservar a integridade do Mercosul.

O chanceler frisou que o obstáculo para a conclusão das negociações continua sendo o fato de que os países ricos quererem extrair "o máximo possível". Na próxima semana, cerca de 30 ministros se reunirão em Genebra, na Suíça, numa última tentativa de fechar as negociações que se arrastam por sete anos.