Título: Exportação de bens básicos atrapalha indústria nacional
Autor: Toitnick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 09/07/2008, Economia, p. A21

Industriais reclamam da dependência do país do preço mundial das commodities

Ludmilla Toitnick

Enquanto o agronegócio comemora a demanda mundial e o alto preço das commodities no mercado externo, a indústria nacional amarga dias de preocupação. O setor queixa-se da falta de incentivo do governo brasileiro para aumentar a exportação de produtos manufaturados. Hoje, o Brasil exporta 65% de commodities e 35% de produtos manufaturados, de acordo com a Associação de Comércio Exterior no Brasil (AEB).

De acordo com especialistas, a exportação de bens industrializados é prejudicada pelo sistema tributário brasileiro e a taxa de câmbio, que não incentivam a atividade.

No agronegócio, as importações cresceram em ritmo maior que as exportações neste semestre. Segundo o Ministério da Agricultura, as importações registraram incremento de 42,7%, e alcançaram US$ 5,6 bilhões. As exportações, entretanto, ainda mantêm larga vantagem. Somaram US$ 33,7 bilhões nos seis primeiros meses de 2008 ¿ valor 26,3% maior que o registrado no mesmo período de 2007. Entre os produtos, estão soja, carnes, cereais, café. Já entre os bens manufaturados produzidos no Brasil, os mais exportados são automóveis, autopeças, celulares, caminhões e calçados.

Volta ao passado

De acordo com o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro, indiretamente o Brasil volta a ser um país agropecuário e de commodities metálicas.

¿ Voltamos a ficar vulneráveis ¿ ressalta Castro. ¿ Não aproveitamos o cenário positivo mundial, com a alta dos preços das matérias-primas e forte demanda mundial por nossos produtos, para investir na indústria nacional. Isso significa que se o preço cair, o Brasil voltará a viver a instabilidade e com uma indústria sem investimentos.

Castro garante ainda que não existe medida para mudar o cenário a curto prazo, mas deveria haver mudanças na taxa de câmbio, menos burocracia, e redução dos juros e da carga tributária

Além disso, ele acha que o aumento da Selic não serve para reduzir a inflação, mas sim para atrair capital especulativo.

¿ É muito difícil que o governo altere a taxa de juros e o câmbio ¿ comenta o presidente da AEB. ¿ Prevejo déficit na balança comercial já em 2009.

Medidas

Castro diz que o sistema tributário não estimula a exportação de produtos manufaturados, pois acumula créditos como ICMS, IPI, PIS e Confins e tem dificuldade de receber os impostos pagos.

O vice-presidente da Associação Brasileira de Máquinas da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, também partilha da mesma opinião de que o Brasil não tem política específica para aumentar a exportação de produtos manufaturados.

¿ Não sei se posso chamar de sorte ¿ comenta aos risos o presidente da Abimaq. ¿ Uma variável dessa forte demanda é o consumo desses produtos na China.

Segundo o Ministério da Agricultura, na análise por país, a forte elevação das vendas para China (81,9%) colocou o mercado daquele país como primeiro destino das exportações, com participação de 11,7% do total exportado do agronegócio brasileiro.

A Abimaq sempre exportou 40% do que produzia, mas em 2007, segundo a própria Associação perdeu 1/3 das exportações em valor.