Título: Líderes empacados no Zimbábue
Autor: Stolberg, Sheryl Gay
Fonte: Jornal do Brasil, 08/07/2008, Internacional, p. A23

Reunião de autoridades para discutir assuntos como crise alimentar teve de mudar o foco

Sheryl Gay Stolberg THE NEW YORK TIMES A agenda da reunião de três dias do G8 na cidade japonesa de Toyako, para discutir assuntos como as mudanças climáticas e o aumento dos preços da energia e dos alimentos, teve de mudar rapidamente para que entrasse em pauta a crise política no Zimbábue, demonstrando um racha entre líderes africanos e do resto do Ocidente. Os governantes de sete países africanos e das nações do G8 apareceram divididos após três horas de conversas sobre o Zimbábue, país onde Robert Mugabe conseguiu um sexto mandato como presidente após semanas de violência contra a oposição, seguidas por um segundo turno de apenas um candidato, que o mundo classificou como blefe. EUA e Reino Unido propuseram um embargo internacional de armas, além de sanções ao governo do Zimbábue. Mas Mugabe já avisou às nações ocidentais que não intervenham, e a União Africana anunciou que rejeitaria sanções ­ seu líder, o presidente tanzaniano Jakaya Kikwete sugeriu um acordo de divisão de poder. ­ Dizemos que nenhum partido deve governar sozinho o Zimbábue ­ comentou Kikwete numa coletiva ao lado do presidente Bush, depois dos encontros no Japão. ­ Assim, as legendas têm de trabalhar juntas para instaurar um trabalho conjunto, num governo, e assim olhar juntos para um futuro de uma nação. Falando a Bush, disse: ­ Entendemos suas inquietações, mas gostaria de assegurá-lo de que essas preocupações que expressou são de fato preocupações nossas, no continente africano. Diferimos é no caminho a seguir. Bush disse que ele e outros líderes ocidentais "ouviram cuidadosamente" seus pares africanos, mas não comentou discussões em relação a sanções e ignorou uma pergunta de um repórter sobre o assunto. Os líderes estão reunidos no montanhoso norte da ilha japonesa de Hokkaido para a reunião do G8, que tecnicamente inclui EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Canadá, Rússia e Japão. O evento anual foi expandido a fim de englobar chefes de Estado de todo o mundo, entre eles os da Tanzânia, Argélia, Etiópia, Gana, Nigéria, Se AFP DANOS ­Simpatizante da oposição foi para hospital depois de ofensiva AFP TRADIÇÃO ­ Bush pediu "mundo sem tiranos" em cerimônia japonesa negal e África do Sul. A reunião gerou protestos. Em Sapporo, maior cidade de Hokaido, inimigos da globalização fizeram ontem uma marcha e uma reunião paralela de ONGs ­ focadas na questão da agricultura. Cerca de 150 pessoas vestidas de palhaços ou vacas caminharam pelas ruas de Sapporo. Ainda que o Japão não tenha sido tão afetado quanto outros países pela alta dos alimentos, organizadores do evento disseram que a atual crise é um momento para repensar o comércio de alimentos e usar mais produtos cultivados localmente. Os manifestantes cantavam "Chega de G8" em inglês e japonês. No estilo autoritário da segurança japonesa, havia tantos agentes quanto manifestantes. A polícia formou um cordão em torno da marcha e os seguiu em ônibus azuis e brancos. ­ Encaramos uma crise de alimentos, mas o G8 não tem respostas ­ disse um dos organizadores, Yoshitaka Mashima, vice-diretor do Movimento das Famílias Agricultoras do Japão. ­ Essa é uma abertura para fazermos um apelo à opinião pública com novas idéias. A crise dos alimentos foi também um dos assuntos do encontro com os líderes africanos. Bush já ofereceu ajuda ao continente africano, sobretudo ao programa de combate à Aids, peça central da política externa americana, e disse que pretende pressionar seus colegas do G8 para dobrar os incentivos em desenvolvimento na África até 2010. Mas, de acordo com ONG americana One, que luta contra a pobreza e Aids em todo o mundo, apenas 14% das promessas feitas no encontro do G8 de 2005 foram cumpridas.