Título: Inflação mostra sinais de recuo
Autor: Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 11/07/2008, Economia, p. A19

Refeição fora de casa pressiona preços, mas tendência é de queda, dizem especialistas

Ludmilla Totinick

O custo com as refeições fora de casa puxou para cima a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no primeiro semestre deste ano. De janeiro a junho, os preços de restaurantes subiram 7,94%, e contribuíram com 0,30 ponto percentual do total de 3,64% do IPCA neste ano. Tradicional prato na mesa do brasileiro, o arroz e feijão também tiveram aumentos expressivos. Só em junho, o arroz ficou 9,9% mais caro e o feijão preto, 7,54%. A carne, subiu 6,91%.

O IPCA ¿ índice oficial de inflação adotado pelo governo ¿ registrou alta de 0,74% em junho contra 0,79% verificado em maio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para o economista Sérgio Vale, da MB Associados, há tendência de desaceleração no aumento de preços, principalmente por causa do período de safra.

¿ Certamente não haverá alta de preços ¿ prevê Vale. ¿ O efeito do feijão passará em breve com a safra. O mesmo acontecerá com o arroz, o trigo e outros produtos.

Dos 20 produtos que exercem maior pressão sobre a inflação, 10 são alimentícios. Trata-se do maior índice para o mês de junho desde 1996, quando o IPCA subiu 1,19%.

¿ Mais uma vez o aumento dos preços dos alimentos tiveram maior impacto sobre o aumento do IPCA¿ disse Eulina Nunes, coordenadora de Índices do Preços do IBGE. ¿ Já acumulam 3,64% no primeiro semestre de 2008, sendo 1,88 ponto percentual, ou seja, os alimentos sozinhos foram responsáveis por 52% do índice desse ano e 63% em junho.

As mensalidades escolares e o pão francês contribuíram, cada um, com 0,22 ponto percentual no resultado da inflação este ano. Os custos com colégios aumentaram 4,52%, e o preço do pãozinho subiu 20,95%.

O arroz já tem alta no ano de 38,21%, com contribuição de 0,20 ponto percentual sobre o resultado geral. O resultado é próximo ao da maior alta do arroz pós-Plano Real, verificada em 2001, quando o produto subiu 43,58%.

O campeão em preços mais altos foi o tomate, com alta de 106,41% e contribuição de 0,12 ponto percentual para o índice geral. Outro destaque é o feijão preto, que em seis meses registra elevação de 57,73%, com contribuição de 0,07 ponto percentual. Já a cebola tem alta acumulada de 48,42% de janeiro a junho, o que significou contribuição de 0,05 ponto.

Por outro lado, tiveram variação negativa no primeiro semestre equipamentos de TV, som e informática (-5,83%), o litro do álcool (-3,21%), gasolina (-1,21%), energia elétrica (-1,13%) e eletrodomésticos (-0,89%).

A inflação em 12 meses acumula alta de 8,53% em Belém, de 8,47% em Recife e 5,90% no Rio de Janeiro. São Paulo tem a menor elevação em 12 meses, não passando dos 5,18%, pouco abaixo de Brasília (5,24%) e Curitiba (5,56%).

Perto do teto da meta

Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 6,06%, acima dos 5,58% identificados nos 12 meses imediatamente anteriores, aproximando-se ainda mais do teto superior à meta, de 6,5% estipulado pelo Banco Central. Em junho de 2007, a inflação pelo IPCA subira 0,28%. No ano, o IPCA acumula alta de 3,64%. No mesmo período em 2007, a inflação não havia passado de 2,08%.

Os alimentos voltaram a pressionar o índice e tiveram alta de 2,11%, acima dos 1,95% constatados no mês anterior. A contribuição deste grupo representou 0,47 ponto percentual do IPCA, representando 63% do resultado total.

Apenas no primeiro semestre, os alimentos acumulam alta de 8,64%, próximo dos 10,79% registrados ao longo de todo o ano de 2007.

Segundo o IBGE, o aumento dos alimentos foi generalizado, e apenas o óleo de soja (-2,76%) e as frutas (-1,96%) tiveram queda significativa. Os produtos não-alimentícios registraram aumento de 0,34% em junho, abaixo dos 0,46% de maio.