Título: O cabo-de-guerra do poder
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Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2005, Internacional, p. A7

Os resultados da eleição iraquiana confirmam uma mudança radical política. A maioria xiita, tratada com desprezo no governo de Saddam Hussein, traduz finalmente seu peso numérico em poder político. A Aliança Iraque Unido (AUI) teve cerca de 130 cadeiras no parlamento. A minoria sunita protegida, que lucrou na ditadura e se rebelou contra a coalizão, compareceu pouco às urnas. No entanto, os 8,45 milhões de cidadãos (59%) que não votaram são pouco para uma eleição de transição - no Afeganistão o índice foi de 80%. Em eleições atribuladas, apenas o pleito para o parlamento bósnio em 1996 teve maior presença, 46%.

Os EUA esperavam que os sunitas desafiariam a guerrilha para votar. Mas, em uma província quase totalmente sunita, apenas 2% foram às urnas. Em Salahuddin, base de Saddam Hussein, 32% votaram. Proporcionalmente, o parlamento terá menor representação sunita que sua população.

Os xiitas esperam que, com poder, possam controlar ministérios e o exército.

- O novo governo tem que ser bem mais forte, combatendo a força com mais força - disse Uday Allawi, um jovem policial xiita em Bagdá. A tortura de sunitas presos se tornou freqüente.

Em segundo lugar nas eleições está a etnia curda, com 70 cadeiras. Ela deseja empossar o presidente e manter a autonomia conseguida depois da primeira Guerra do Golfo. A maior questão com os xiitas é o desejo de inclusão de Kirkuk, centro de produção de petróleo, em sua região.

A AUI é controlada pelo Partido Dawa e o Conselho Supremo da Revolução Islâmica. Ambos têm laços com o Irã e querem que a religião tenha um papel mais importante no governo.

Os líderes xiitas já prometeram alianças com os sunitas que se aproximem. Mas a expectativa que sua posição privilegiada acabou de vez é forte.