Título: Equipe que prendeu Dantas cai
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 16/07/2008, País, p. A2

Homem que prendeu banqueiro e sua equipe deixam a investigação após reunião tensa. Diretor-geral da PF sai de férias, apesar das truculências.

Vasconcelo Quadros BRASÍLIA

Em mais um capítulo do conflito gerado com a prisão do banqueiro Daniel Dantas, o delegado federal Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha, deixou, ontem, o comando das investigações, depois de uma reunião tensa com a direção da Polícia Federal em São Paulo. Desgastado internamente por levantar suspeitas contra a direção da Polícia Federal, Queiroz foi pressionado a pedir afastamento. Em solidariedade, outros dois policiais que participavam do caso, os delegados Karina Murakami Souza e Carlos Eduardo Pellegrino Magro, também abandonaram as investigações.

O racha na Polícia Federal se materializou no mesmo instante em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebia o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o ministro da Justiça, Tarso Genro, para discutir a crise e tentar evitar que ela chegue ao Palácio do Planalto. Em meio à crise e uma onda de boatos sobre o agravamento da crise, o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa entrou de férias por 15 dias.

Versões contraditórias

As explicações sobre a saída de Protógenes são contraditórias. Alvo de sindicância interna que o coloca como principal suspeito do vazamento das informações sobre a operação e em guerra aberta com seus superiores ­ sobre os quais chegou a levantar suspeitas de que estivesse sendo boicotado ­ Queiroz disse que foi obrigado a se afastar das investigações sobre Daniel Dantas e os demais integrantes do Grupo Oppottunity. A pressão, segundo contou a outros delegados, juízes e procuradores, foi exposta numa reunião na superintendência da PF em São Paulo, onde participaram os delegados Paulo de Tarso Teixeira e Roberto Troncon Filho, diretor de Combate ao Crime Organizado a PF e superior de Protógenes.

O homem que viveu a glória de prender um dos banqueiros mais poderosos do país se viu obrigado a sair de cena com uma justifica oficial prosaica. A direção da PF informou apenas que Protógenes Queiroz vai fazer um curso superior de polícia na Academia da PF em Brasília, que começa na próxima segunda-feira, e por isso pediu para se afastar. Como o delegado havia reivindicado na justiça o direito de participar do curso, essa era a melhor explicação para o afastamento.

A direção da Polícia Federal informou, através de sua assessoria, que a saída dos três delegados não vai atrapalhar as investigações contra o grupo de Daniel Dantas abertas com a Operação Satiagraha. O caso, informou o órgão, não pertence a pessoas e sim à instituição. A equipe que trabalha na apuração será reforçada para analisar o material apreendido nos endereços devassados na última terça-feira passada .

O relatório da Operação Satiagraha deixado pela equipe de Protógenes Queiroz deixa em aberto várias outras frentes de investigação. A mais consistente, com fartura de diálogos captados no grampo telefônico, reforça o papel do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT paulista, em franca articulação de bastidor para influenciar decisões a favor do Grupo Opportunity em órgãos oficiais, especialmente no Palácio do Planalto. Citado ao lado de Guilherme Henrique Sodre Martins, assessor de Dantas conhecido por Guiga, e do braço direito do banqueiro, Humberto José Rocha Braz, o Guga, preso sob a acusação de tentar subornar um delegado, Greehalgh aparece como um dos principais alvos da investigação.

Fortes indícios

"Há fortes indícios da partici- pação destas pessoas nos delitos de formação de quadrilha, de tráfico de influência e corrupção ativa, sendo que para estes dois últimos delitos, esperamos obter mais elementos probatórios após a realização de buscas e apreensões", diz o relatório.

Outra frente de investigação deixada pela equipe que saiu do caso é o agronegócio, atividade que, segundo afirma o relatório da Polícia Federal, era usado pelo Grupo Opportunity para lavar a fortuna obtida de investimentos movimentados no exterior, cuja origem era o dinheiro público desviado. No alvo da Polícia Federal e Ministério Público estão empreendimentos rurais estimados em mais de R$ 500 milhões, usados para a compra de fazendas e criação de gado no Pará. O centro dos investimentos é a antiga Fazenda Cedro, a 50 quilômetros de Marabá, no Sul do Pará, para onde convergem projetos voltados para a produção de biodiesel e gado de raça. O relatório cita duas empresas, a Santa Bárbara Xinguara, cuja sede fica em Amparo (SP) e Acobaça Consultoria e Participações, de Três Rios (RJ), cujos donos são a irmã de Daniel Dantas, Verônica Dantas e seu ex-marido, Carlos Rodenburgo, apontado como gerente financeiro do grupo. Segundo a polícia, Dantas pretendia construir um porto no Pará e, para isso, contava com a ação de Greenhalgh para atuar junto às autoridades do governo estadual.