Título: Quando a crise é de credibilidade
Autor: Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 16/07/2008, Economia, p. A17

O Brasil e Estados Unidos vivem momentos econômicos bem distintos. Aqui, a credibilidade do consumidor na estabilidade econômica do país prevalece e proporciona aquecimento da economia. Lá, a falta de confiança no futuro desestimula o consumo e diminui a oferta de crédito do país, segundo especialistas ouvidos pelo JB .

Nos últimos 12 meses terminados em maio, a expansão das vendas do comércio no Brasil foi de 10,3%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou 0,6% em relação ao mês anterior. Nos EUA, o varejo subiu 0,1% em junho na comparação com maio. Apesar da alta, o dado foi considerado ruim pelos analistas, que esperavam alta de 0,4%.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, disse que o comércio brasileiro cresce a taxas "robustas".

¿ Há correlação entre crescimento do crédito, aumento da massa salarial e as vendas no varejo ¿ disse o presidente do BC.

O cenário americano é pessimista. O presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Ben Bernanke, disse ontem ao Congresso que a situação delicada dos Estados Unidos está diante de inúmeras dificuldades, e inclui pressões persistentes sobre os mercados financeiros, crescimento do desemprego e problemas no mercado imobiliário apesar dos cortes de juros efetuados entre setembro do ano passado e abril desse ano.

A crise começou com o boom do mercado imobiliário americano, que teve alto índice de inadimplência no chamado crédito de segundo linha, chamado de subprime e afetou todos os setores da economia.

No Brasil, a taxa de desemprego foi de 7,9% em maio, o menor nível para o mês e o segundo menor índice de toda a série iniciada em 2002, acima apenas do verificado em dezembro de 2007 (7,4%), segundo o IBGE. Nos EUA, o número de desempregados subiu em um mês meio ponto percentual, o maior aumento em mais de duas décadas. Pulou de 5%, em abril, para 5,5%, em maio, impulsionado pelo corte de vagas de trabalho, que chegou a 49 mil no mês. O índice geral é o mais alto desde outubro de 2004.

Antonio Carlos Pôrto Gonçalves, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio, diz que os EUA hoje vivem a "armadilha da liquidez".

¿ Os bancos não querem emprestar e as pessoas não desejam gastar, pois não têm expectativas boas com relação ao futuro do país ¿ explica Gonçalves.

Entretanto, segundo o professor, os Estados Unidos têm como única ferramenta a redução dos juros. Mas ela é falha.

Para o professor de Economia do Ibmec-RJ Paulo Di Blasi a taxa de juros americana é um balizador da taxa de juros mundial.

¿ À medida que o Fed reduz a taxa de juros lá, é bom para incentivar o consumo e ruim para os investidores, que buscarão lugares de maior lucratividade.