Título: Ministro avalia acertos e trapalhadas
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 13/07/2008, País, p. A15

Genro elogia policiais federais. Mas quer aprimorar ainda mais futuras ações da corporação

Vasconcelo QuadrosBrasília

A crise gerada com as quatro fases do prende-e-solta envolvendo como figura central o banqueiro Daniel Dantas ainda não foi assimilada, mas marcou uma nova etapa na repressão aos delitos de colarinho branco: a Polícia Federal está abrindo uma ofensiva para depurar o mercado financeiro, atacando quadrilhas que usam a proximidade com personagens influentes nos três poderes para desviar recursos públicos ou melhorar a posição em negócios privados.

¿ São grupos econômicos que agem em aparente normalidade, mas na verdade vivem nas entrelinhas da lei e raramente são alcançados por ela ¿ diz um delegado da PF.

O perfil do novo alvo de investigação é o empresário bem sucedido, que vende uma imagem de gênio no mercado, mas se lastreia na promiscuidade com o poder. Constrói uma rede de influência no Congresso, contrata lobista para agir nos ministérios e conta com uma retaguarda jurídica ¿ formada por bons advogados ¿ para atuar nos diversos escalões do judiciário com argumentos ilimitados. No topo das organizações econômicas ¿ que a polícia trata agora por quadrilha ¿ ficam dirigentes raramente alcançáveis pelas investigações.

Apoio à repressão

O governo passou a dar apoio às ações de repressão aos poderosos ao perceber que a quebra da sensação de impunidade promove um novo tipo de inclusão social, quebra a histórica desigualdade na aplicação da lei e, de quebra, aumenta a popularidade e o capital político do presidente Lula.

¿ Não vamos adotar critério de critérios de classe ¿ diz o ministro da Justiça, Tarso Genro, que decidiu bancar a ação da Polícia Federal com uma dupla orientação: a busca de provas de qualidade para amparar as acusações contra poderosos e o máximo de rigor no combate a atitudes que possam ferir direitos ou passar a idéia de privilégio.

A Operação Satiagraha está sendo usada como exemplo. Foi, ao mesmo tempo, um tiro contundente contra a elite financeira promíscua e também a ação de impacto em que mais erros foram cometidos. O mais grave deles foi a violação ao manual de conduta dos federais, que proíbe a execração pública de presos (ricos ou pobres) e o vazamento de informações que resultem em privilégios a determinados veículos de comunicação.

¿ O sucesso da operação não é salvo-conduto. O vazamento contrariou o manual e será apurado ¿ garantiu o diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Na terça-feria pela manhã, as viaturas da TV Globo chegaram aos endereços do investidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta antes dos policiais, o que deixou claro que a emissora foi avisada a tempo de captar as melhores imagens das prisões.

¿ Ninguém deveria ter sido avisado. E nenhuma emissora deveria contar com privilégio ¿ disse o ministro Tarso Genro. ¿ Vamos avaliar os desvios e os erros cometidos. As pessoas não podem ser expostas ¿ disse Genro.

Endereço errado

No quesito trapalhada, os policiais acabaram batendo em endereço errado. Entraram na fazenda de um dos diretores do Banco Pactual, Luiz Cesar Fernandes, em Petrópolis, e só depois da abordagem é que perceberam o equívoco. O jeito foi improvisar o pedido de desculpas com uma criativa confraternização, onde não faltaram poses para fotografias, com funcionários da fazenda ao lado de policiais. Ao criticar a reação da elite ao uso de algemas, o ministro Tarso Genro acabou revelando mais um erro da operação.

¿ Discutiram as algemas como se algumas pessoas fossem vítimas de violência contra alvos de elevado prestígio público. Ninguém debateu o empurrão no vigia da mansão do Naji Nahas ¿ revelou.