Título: Daniel Dantas? Ninguém agora parece saber de quem se trata
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/07/2008, País, p. A2

Prisão do heterodoxo banqueiro faz desaparecer aliados no Parlamento

Márcio Falcão BRASÍLIA

A prisão do banqueiro Daniel Dantas na operação Satiagraha praticamente calou a cena política. No Congresso, o assunto virou tema de conversas reservadas de parlamentares, mas nem governo nem oposição lançaram mão das denúncias que pesam sobre o empresário para fazer ataques políticos. Apenas vozes isoladas fazem referência à influência de Dantas nos bastidores dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Deputados e senadores que não se recusam a falar sustentam que há o que se pode chamar da bancada de Daniel Dantas. Surgem nomes das mais variadas legendas e tendências políticas. No Senado, por exemplo, apontam ligação com o senador Heráclito Fortes (DEM-PI). Na Câmara, lembram o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). Os dois parlamentares negam qualquer laço com o banqueiro. Fortes diz apenas que conhece Carlos Rodenburg, cunhado de Dantas e que também preso na operação da PF. A explicação para o trânsito de Dantas é simples. ­ Dantas não tem amigo por aqui ­ rechaça a idéia da bancada o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). ­ Mas ele se relacionava de acordo com seus interesses. O engenheiro e economista Daniel Dantas chegou ao meio político pelas mãos do ex-senador Antonio Carlos Magalhães ainda na Bahia. Foi conselheiro do PFL, atual DEM, e chegou a ser cogitado para o Ministério da Fazenda por Collor de Mello. No governo Fernando Henrique, o interesse de Dantas era a Telebrás. O empresário foi acusado de favorecimento na privatização das empresas do Sistema Telebrás. As denúncias surgiram devido aos conflitos entre os fundos públicos de pensão e várias corporações estrangeiras, como a italiana Telecom e a canadense TIM, com quem o especulador mantinha íntimas relações.

Manobras societárias

Em 2000, os fundos de pensão acionaram a Justiça contra o Banco Opportunity, de propriedade do empresário, por manobras societárias. Ele também foi acusado por um ex-sócio, Luis Demarco, por desvio de dinheiro do fundo que geria no Caribe com capital do Citibank destinado à privatização. Por meio deste fundo, Dantas arrematou o controle da Tele Centro Sul, da Telemig e da Amazônia Celular. No governo Lula, Dantas estreitou laços com o grupo petista do ex-ministro José Dirceu, em troca de apoio para permanecer no controle da Brasil Telecom. O empresário acabou envolvido no mensalão. As empresas de publicidade de Marcos Valério, operador do esquema de pagamento de mesada a parlamentares, teriam recebido das empresas Telemig Celular S/A e Amazônia Celular R$ 152,4 milhões. O empenho de Dantas, no entanto, não teve resultado, mas a relação governista continuou. As suspeitas, agora, recaem sobre possível favorecimento na compra da Brasil Telecom pela Oi. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) questiona o envolvimento de Dantas com o governo, uma vez que o banqueiro assinou um contrato de venda de sua parte na empresa, por mais de US$ 1 bilhão, segundo especialistas. Valente, que é candidato a prefeito de São Paulo, acusou o governo de mudar a legislação apenas para atender os interesses da Oi e da Brasil Telecom ­ Esse cidadão está preso, atrás das grades, o governo não tem nada a ver com isso? ­ questionou Valente. ­ A Anatel, o BNDES não têm nada a ver com isso? O governo precisa se dar explicações. Os esclarecimentos poderão sair da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara. Ontem, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-RS) conseguiu aprovar a criação de uma subcomissão para investigar a transação. Os deputados vão ouvir os diretores da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). ­ A primeira questão que precisa ser esclarecida é se a Anatel fiscaliza a transferência acionária, tendo em vista que as mudanças terão reflexo para o consumidor ­ diz Fruet. O tucano encomendou aos assessores do partido que façam um levantamento sobre possíveis projetos de interesse de Dantas na comissão. Na primeira varredura nada foi encontrado. Segundo o deputado isso acontece porque a comissão não analisa fusão. ­ Mesmo que não tenho algo direto vamos analisar todas as possibilidades ­ completa Fruet. Outro cerco às ligações de Dantas com parlamentares vai acontecer na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Escutas Telefônicas. Por lá, a relação está na empresa Kroll, consultoria de gerenciamento de riscos. A multinacional prestou serviços a Dantas e é acusada de espionar autoridades da alta cúpula do governo. Na próxima semana, os deputados devem analisar requerimento da bancada do PSDB pedindo a convocação de Dantas e Naji Nahas. ­ Acredito que em breve eles estarão dando explicações na atuação dos fundos de pensão e das corretoras envolvidas no mensalão ­ afirma Fruet

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