Título: Prisão causa fuga de investidores
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/07/2008, País, p. A2

Banco Opportunity sofre terça-feira retiradas cinco

A ação da Polícia Federal sobre as operações do banqueiro Daniel Dantas provocou a reação dos investidores que aplicavam recursos nos fundos administrados pelo Banco Opportunity. Chegou a R$ 255 milhões o volume de saques, ou cerca de 1,5% do patrimônio total administrado. Segundo comunicado disponibilizado no site do banco ontem, os seus fundos de investimento estão operando normalmente. Mas os investidores reagiram com rapidez: na terça-feira, dia da deflagração da operação da PF, o volume de saques da Opportunity Asset Management, braço de gestão de recursos do Opportunity, cresceu de uma média de R$ 20 milhões por dia para cerca de R$ 100 milhões após a divulgação da notícia.

O Banco Opportunity ocupa atualmente o 20º lugar no ranking da Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (ANBID), com R$ 16,96 bilhões de recursos sob gestão. Cerca de 75% desse volume pertencem a pessoas de alta renda.

CVM observa

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informou, ontem, que está em contato com o Ministério Público Federal para trocar informações e adotar as medidas cabíveis no caso do Opportunity. A entidade afirmou ainda que não comenta sobre investigações em curso. Das empresas negociadas no Novo Mercado, nível mais elevado de governança corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), apenas a Agra Empreendimentos Imobiliários tem participação do grupo, que detém 4,76% do capital da empresa.

Uma turbulência parecida foi enfrentada pela gestora em 2004, quando surgiram as primeiras denúncias contra Dantas. Na época, em 12 meses, perdeu o equivalente a 4% do total.

Envolvido na denúncia de operações ilegais e evasão de divisas do grupo de Daniel Dantas, o fundo Opportunity Fund foi criado em 1996 com sede nas Ilhas Cayman e é registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como voltado especificamente para investidores estrangeiros. De acordo com as investigações da Polícia Federal, o fundo era utilizado pelo banqueiro Daniel Dantas para a realização de operações financeiras no exterior sem o devido registro das autoridades brasileiras, crime conhecido como evasão de divisas.

O fundo investe em ações brasileiras e é gerido pela Opportunity Asset Management, que tem como diretores, Dório Ferman e Verônica Valente Dantas. O fundo foi criado dentro das regras do Anexo IV da Resolução 1.289 do Conselho Monetário Nacional, editada em de 20 de março de 1987. As regras deste Anexo IV valeram até 26 de janeiro de 2000, e isentava do Imposto de Renda de 20% os investimentos de estrangeiros no mercado de ações do Brasil. No entanto, esses investidores não poderiam ser residentes brasileiros, nem comprar ou vender participação em empresas de capital aberto fora da bolsa, ou adquirir o controle dessas companhias.

Últimos dados

Os últimos dados públicos sobre o fundo, contidos no Private Placement Memorandum, espécie de manual de instruções dado aos investidores entregue à CVM em 1998, apontam entre os diretores responsáveis os nomes de Daniel Dantas, Pérsio Arida e Verônica Dantas.

O Opportunity Fund se associou ao Citibank na criação do fundo CVC Opportunity Equity Partners, voltado para estrangeiros, mas que terminou com o controle acionário das estatais. O fundo comprou participação em empresas como a Sanepar, Companhia Vale do Rio Doce, Metrô do Rio de Janeiro, além da participação em empresas de telefonia fixa arrematadas no processo de privatização do sistema Telebrás, o que era proibido por lei.

No setor de telecomunicações o fundo foi controlador da Brasil Telecom, atualmente em processo de fusão com a Oi, após um imbróglio judicial que se arrastou por anos, além de ter participações indiretas nas empresas Telemig Celular, comprada recentemente pela Vivo, e na Tele Norte Celular.

O grupo Opportunity, por meio de seus fundos de investimento, também chegou a ter participação em outros setores da economia, como o de transporte, com a aquisição de participação no Metrô do Rio de Janeiro, e na Santos Brasil - empresa de contêineres do porto de Santos. No setor agropecuário, o Opportunity tem participação na Agropecuária Santa Barbara.