Título: Brasil vira peça-chave para Doha
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Fonte: Jornal do Brasil, 10/07/2008, Economia, p. A19

Potência agrícola e grande mercado consumidor, país ganha peso nas negociações com o G8

ReutersToyako, Japão

As negociações da Rodada de Doha para a liberalização comercial global ganharam força ontem, com os presidentes do Brasil e da França expressando urgência na realização de um acordo, disseram líderes mundiais durante uma reunião de cúpula no Japão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos mais entusiasmados quanto às perspectivas de Doha durante reunião com líderes de EUA, União Européia, Índia e outros participantes importantes do processo, segundo líderes presentes.

A França reluta em aceitar reduções nos subsídios agrícolas concedidos pela União Européia a seus produtores, o que é um dos principais entraves à conclusão do tratado.

Especialistas dizem que a reunião ministerial marcada para o dia 21 em Genebra, na sede da Organização Mundial do Comércio, será a última oportunidade de concluir a rodada antes que o processo seja atropelado pelo calendário eleitoral norte-americano.

O Brasil, uma potência agrícola, tem papel-chave nas discussões de Doha, representando os interesses dos países em desenvolvimento.

Já o presidente da França, Nicolas Sarkozy, deixou claro que também espera concluir rapidamente o acordo, e para isso fez um apelo especial ao Brasil, segundo relato transmitido pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown.

¿ A chave para um acordo é o Brasil, que liderará os países do Mercosul nas negociações comerciais ¿ declarou Brown depois da reunião. Segundo ele, uma conclusão favorável pode ser atingida em breve.

A mensagem de otimismo foi ratificada pelo comunicado divulgado ao final do encontro: "Reino Unido e Brasil acreditam que um ambiente comercial aberto levará prosperidade às pessoas de todo o mundo e ajudará a tirar milhões de pessoas da pobreza".

O documento cita a importância de abrir os mercados e ampliar o comércio. "Após meses de duro trabalho e detalhadas negociações, agora estamos perto de um acordo", diz o comunicado.

Vontade política

Buscando enviar uma mensagem política forte à reunião ministerial, Brown já havia divulgado uma declaração sobre comércio conjuntamente com Lula, supostamente sinalizando uma postura mais flexível por parte da América Latina.

¿ A novidade é que o Brasil deixou claro hoje que deseja este acordo ¿ disse Brown. ¿ O presidente Sarkozy deixou claro que gostaria de ver um rompimento do impasse e fez um apelo ao Brasil.

¿ Acho que as mensagens transmitidas durante o encontro dos presidentes (dos EUA, George W. Bush e Lula foram muito mais claras do que antes a respeito da urgência e desejabilidade de um acordo ¿ disse o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, no avião em que deixou Hokkaido.

Também no Japão, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse a jornalistas que é "crucial ir além" na reunião ministerial da semana que vem em Genebra. Mas a abertura do Brasil para um acordo depende também da abertura dos demais participantes, alertou Amorim.

Lula declarou neste mês que a Rodada de Doha poderia ser concluída até o fim de julho, mas na terça-feira um mediador da OMC informou que ainda falta um acordo sobre partes importantes da negociação sobre bens industriais.

Uma nova proposta sobre os produtos manufaturados deve ser apresentada hoje. Esse texto, junto com um novo esboço sobre agricultura, servirá de base para a reunião ministerial na sede da OMC.