Título: Campanhas e beneméritos
Autor: Tahan, Ana Maria
Fonte: Jornal do Brasil, 15/07/2008, Colunas, p. A2

Melhor passar longe do entrevo jurídico entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e procuradores, juízes federais, e policiais aberto com o entra-sai, prende-solta do banqueiro Daniel Dantas. Augusto Nunes e Mauro Santayana já escreveram, com ironia e conhecimento, sobre o tema aqui neste JB.

Nem se pretende tocar no retorno à cela de Cacciola, até porque, depois do quiproquó já citado, a bolsa de apostas em torno do tempo em que tal condenado ficará atrás das grades brasileiras, quando por aqui desembarcar, já está aberta. Um mês lidera o ranking e paga menos. No cipoal dos negócios tortuosos, Celso Pitta com seu pijaminha e súplicas a doleiros e ao megainvestidor Naji Nahas para repatriar milhares de dólares supostamente desviados de obras públicas paulistanas no período à frente da prefeitura de São Paulo, chega até a fazer feio de tão "ínfimas" as quantias envolvidas.

Os algemados da semana passada conseguiram o feito de levar para segundo plano a ação contra a eventual licitação arranjada no Amapá por empresas ligadas ao multimilionário Eike Batista, a inflação, o vaivém de Lula pelo exterior e a campanha eleitoral. Um pena, porque é mais que notória a ligação entre "beneméritos" de políticos como Dantas e beneficiados, como Pitta. Aqueles que se encaixam no figurino do primeiro "ajudam" a bancar os custos do esforço daqueles que se identificam com o segundo e cobram a fatura depois. Uma fatura cara se verdadeiras e comprovadamente sérias as investigações dos policiais federais incluídas nas 250 páginas do relatório do delegado federal Protógenes Queiróz, fermentado com ataques à gramática e peça inequívoca de auto-promoção.

O assunto é tão empolgante, que para fugir dele, a colunista acabou por se estender além da conta. Vale aqui falar de muitos e muitos reais, mas seguramente bem menos do que os dos banqueiros. A conquista de votos por pretendentes a vereadores é aventura para profissionais. Seja em regiões dominadas por tráfico ou milícia, seja em zonas menos conturbadas.

O JB domingo expôs o domínio do crime sobre a agenda de candidatos. O de segunda-feira escancarou o controle de regiões por concorrentes que "fundam" organizações ou abrem centros para arrecadar dinheiro público e formar currais eleitorais à base de tratamento odontológico, distribuições de remédios, leite e cadeiras de roda ou sob o pretexto de formação profissional dos carentes de tudo a partir da omissão da administração municipal.

Em um ou outro caso o preço a pagar é astronômico. "Não tenho centro social, não tenho voto de cabresto", afirma um candidato a vereador que corre atrás de cariocas com título de eleitor por toda a cidade. "Vou ter de gastar muito para dizer que existo". Gastar muito, explica, é pagar por adesivos de automóveis, pela equipe que mantém seu endereço eletrônico no ar 24 horas, pelos que coordenam sua agenda de reuniões domiciliares, pelos 120 carregadores de "pirulitos", placas com seu nome e número espalhadas por cruzamentos estratégicos da cidade... Enfim, um arsenal de meios um exército de servidores que a ajudem a propagar suas idéias e identidade e a transformar tal mingau em votos nas urnas.

O concorrente que disputa a reeleição é dos poucos que fala abertamente em dispêndio de campanha. E reconhece o peso econômico da eleição, embora não entre em detalhes sobre números e prefira mandar a identidade em sigilo. O certo é que voto custa caro. Nem sempre o gasto dá resultado. E, quando dá, deixa a dúvida: o que os beneméritos por trás de cada um vão cobrar depois?

A primazia da idéia

A vereadora Andréa Gouvêa Vieira telefona para esclarecer que, antes da Câmara Municipal paulistana aprovar o projeto, a do Rio teve o ineditismo de analisar e sacramentar a obrigatoriedade de os prefeitos apresentarem um plano de metas e objetivos com base no orçamento municipal a cada ano de mandato. O texto, apresentado por ela, ganhou a adesão dos vereadores cariocas em 2005. Cesar Maia vetou. Os edis insistiram. O prefeito recorreu à Justiça, alegando a inconstitucionalidade da lei aprovada pelo Legislativo municipal. E jamais o cumpriu. Ela torce para que o futuro prefeito não siga os passos do atual. E faça sua parte. Com metas e gestão eficiente.