Título: Neonazistas marcham em Dresden
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Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2005, Internacional, p. A8

População reage com manifestação ainda maior

Dresden ¿ AFP Extremistas exigem desculpas da Grã-Bretanha por bombardeio

DRESDEN, Alemanha - Acenando com bandeiras negras e carregando faixas, milhares de neonazistas marcharam em Dresden ontem, no aniversário dos 60 anos de um dos mais sangrentos bombardeios realizados pelos aliados da Segunda Guerra Mundial.

Antes da marcha, o chanceler Gerhard Schröder, pediu que grupos de extrema direita parassem de se aproveitar da data ao retratar a Alemanha como uma vítima da guerra, ignorando as atrocidades nazistas.

Segundo a polícia, pelo menos 5 mil alemães se juntaram à marcha, o que a torna uma das maiores demonstrações de extrema direita desde a guerra. Oradores atacaram o ''terrorismo anglo-saxão'', ''o primeiro criminoso de guerra de todos os tempos, Winston Churchill'' e os líderes dos partidos estabelecidos na Alemanha, por suposta traição à pátria.

- Esperamos um pedido oficial de desculpas da Grã-Bretanha - disse Udo Voigt, líder do NPD (Partido Nacional Democrata), de extrema-direita.

Logo depois, uma multidão ainda maior, de 50 mil pessoas, também marchou - contra a manifestação neonazista. Mas o clima estava calmo, o ato foi sereno e reflexivo e os manifestantes acenderam milhares de velas para lembrar as vítimas dos bombardeios.

Na Frauenkirche, cuja destruição em 1945 se converteu em um dos símbolos da dor de Dresden, foi celebrada uma missa. O capelão John Irving, de uma igreja de Conventry, cidade britânica duramente atingida pelos bombardeios aliados, entregou uma coroa de espinhos como sinal da reconciliação entre os dois países.

- Entendo que pensam que os pilotos que bombardearam Dresden fizeram algo sem justificativa, mas não podem comparar isso com o Holocausto - disse Irving.

Enquanto o NPD tingiu o aniversário de revanchismo, nas comemorações oficiais houve um esforço para misturar a homenagem aos mortos com o reconhecimento de que foi a Alemanha que originou todos os horrores da guerra. Líderes britânicos, americanos, franceses e russos deram mensagens de paz e reconciliação, mas lembraram os crimes dos nazistas e suas cidades que compartilharam o destino de Dresden.