Título: Lula discute como conter os danos de mais uma crise
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 15/07/2008, País, p. A10

Presidente teria sido aconselhado a paralisar fusão Oi-Brasil Telecom

Karla Correia

BRASÍLIA

A maior preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na primeira reunião presencial com o núcleo de coordenação política de seu governo para tratar das investigações da Polícia Federal sobre o empresário Daniel Dantas, ontem, foi blindar o Palácio do Planalto. O governo foi levado para o olho do furacão pela Operação Satiagraha por causa das escutas telefônicas da PF revelando conversas entre o advogado do empresário, Luiz Eduardo Greenhalgh, e o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho.

A tônica da reunião no Planalto foi a contenção de danos. Segundo assessores diretos de Lula, a crise institucional entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o juiz federal Fausto Martin de Sanctis ficou em segundo plano.

Esclarecimento

Como primeira providência, o palácio divulgou nota de esclarecimento das relações entre Carvalho e Greenhalgh. Para o presidente Lula, a principal fonte de incômodo é o fato de Greenhalgh ¿ ex-deputado, membro do PT que sempre teve trânsito no Palácio do Planalto ¿ ter aparecido no centro de um episódio com forte suspeição de tráfico de influência.

O chefe de gabinete de Lula confirmou o contato telefônico com Greenhalgh, no dia 28 de maio, quando o advogado de Daniel Dantas teria ligado para Gilberto Carvalho para pedir informações sobre uma suposta investigação envolvendo um cliente seu. Tratava-se de Humberto Braz, sócio de Dantas que ontem se entregou à Polícia Federal em São Paulo. Ele é acusado de tentar subornar policiais para impedir a prisão do empresário.

De acordo com o relato de Gilberto Carvalho, Greenhalgh, por telefone, disse que um suposto tenente da Polícia Militar de Minas Gerais teria seguido e interceptado Humberto Braz, dizendo estar a serviço da Presidência da República. Segundo a versão do Palácio do Planalto, o advogado de Dantas ligou para checar a informação.

"Procurei o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência e fui informado de que o referido tenente estava credenciado pelo GSI, mas o trabalho que realizava nada tinha a ver com o cidadão citado", explica Carvalho, na nota. "Repassei pelo telefone esta informação ao Dr. Greenhalgh".

Supertele

Humberto José da Rocha Braz é ex-presidente da BT Telecomunicações, controladora da Brasil Telecom, que está em processo de fusão com a telefônica Oi. A resistência de setores petistas do governo à operação era a principal preocupação demonstrada por Daniel Dantas nas escutas feitas pela Polícia Federal.

A suspeita é que o empresário tenha procurado os serviços de Greenhalgh para azeitar os caminhos da fusão. Lula foi aconselhado a paralisar a criação da supertele.