Título: Quão preocupados deveríamos ficar?
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/07/2008, Economia, p. A18
E E agora chegamos ao próximo estágio de nossa crise financeira que parece nunca ter fim. Desta vez, a Fannie Mae e a Freddie Mac, agências de hipotecas subsidiadas pelo governo, estão nas manchetes, com alertas terríveis de colapso iminente. Quão preocupados deveríamos ficar?
Bem, vou apresentar uma posição contrária: estão fazendo tempestade em copo d'água em relação a essas instituições que concedem empréstimos. A Fannie e a Freddie provavelmente precisarão de uma ajuda do governo. Mas já que esse socorro virá mesmo, os problemas delas não afundarão a economia.
Além disso, por mais que a Fannie e a Freddie sejam instituições problemáticas, elas não são responsáveis pela confusão em que nos encontramos.
Aqui vai o contexto: a Associação Federal Nacional de Hipotecas (Fannie Mae) ¿ foi criada na década de 1930 a fim de facilitar a obtenção da casa própria, comprando hipotecas de bancos e liberando dinheiro para novos empréstimos. A Fannie e a Freddie Mac, a qual faz praticamente a mesma coisa, agora financiam a maioria dos empréstimos imobiliários feitos nos Estados Unidos.
O caso contra a Fannie e a Freddie começa com seu status peculiar: apesar de serem empresas privadas com acionistas e lucros, elas são "firmas patrocinadas pelo governo" estabelecidas por lei federal, o que significa que recebem privilégios especiais.
O mais importante desses privilégios encontra-se implícito: os investidores acreditam que se a Fannie e a Freddie estiverem ameaçadas de falência, o governo federal vai socorrê-las.
Essa garantia implícita significa que os lucros são privatizados, mas as perdas, socializadas. Se a Fannie e a Freddie se saem bem, seus acionistas colhem os lucros, mas se as coisas vão mal, Washington paga a conta. Cara, eles ganham, coroa, nós perdemos.
Essas apostas de mão única podem encorajar a tomada de riscos prejudiciais, porque ninguém quer se responsabilizar pela desaceleração econômica.
O negócio é o seguinte: a Fannie e a Freddie não tiveram nada a ver com a explosão de empréstimos de alto risco há poucos anos, uma explosão que ofuscou o fiasco dos empréstimos e poupanças. Na verdade, a Fannie e a Freddie, depois de crescerem rapidamente na década de 1990, desapareceram durante o auge da bolha imobiliária.
Não é um absurdo os contribuintes terem de socorrer essas instituições? Na verdade não. Estamos passando por uma grande crise financeira ¿ e tais crises quase sempre fazem os contribuintes socorrerem o sistema bancário.
E vamos ser sinceros: a Fannie e a Freddie não podem falir. Com o colapso de empréstimos subprime, elas agora são mais importantes do que nunca para o mercado imobiliário, e para a economia como um todo.