Título: Correa mantém críticas à operação que libertou Ingrid
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/07/2008, Internacional, p. A22

Líder equatoriano conta que não felicitou Uribe pois "não crê em novela"

Única voz entre os líderes latinos a continuar criticando a operação do Exército colombiano que libertou Ingrid Betancourt e outros 14 reféns das Farc, o presidente do Equador, Rafael Correa, disse ontem acreditar que o governante colombiano, Álvaro Uribe, teve muita sorte na soltura de Ingrid. Contou ao jornal El Telégrafo que ficou feliz pelo resgate de Ingrid, que estava há quase seis anos em cativeiro, mas que não felicitou Uribe porque não acredita "em tramas de novelas".

¿ Em boa hora foi libertada uma mulher que poderia ter sido solta antes se tivesse havido um pouco mais de sensibilidade do governo colombiano ¿ afirmou.

Correa acrescentou que é "professor de Economia para a tomada de decisões. Sei bem que um resultado positivo não necessariamente é fruto de uma decisão correta, mas de ter boa sorte".

¿ O que teria acontecido se todos os reféns e os soldados que iam ao resgate de Betancourt tivessem morrido? Quais teriam sido as manchetes? ¿ questionou. ¿ Graças a Deus, tudo correu bem, mas foi mais por boa sorte do que por boa decisão. Em todo caso, muito bom para a Colômbia, por Ingrid, pelo governo de Uribe.

Diplomacia cortada

Equador e Colômbia estão com relações diplomáticas cortadas desde 3 de março, depois da violação territorial colombiana registrada dois dias antes, quando uma operação militar matou o número 2 das Farc, Raúl Reyes. Consultado sobre se aceitaria que Betancourt intermediasse entre Quito e Bogotá, Correa disse:

¿ Ela é livre de fazer o que quiser, mas os problemas são mais fundos. Fomos desprezados sistematicamente pelo governo da Colômbia. Por isso, enquanto não houver uma mudança substancial no comportamento de Bogotá, não retomaremos relações.

O equatoriano atribui a popularidade de Uribe às Farc.

¿ Realmente é difícil entender as Farc. Jamais compartilhamos seus métodos. Mas, mesmo supondo que lutem pela justiça social e contra um governo que consideram antidemocrático, como o governo de Uribe, suas ações fazem com que sejam os principais apoios de Uribe.

Em Paris, quase alheia às confusões diplomáticas sul-americanas, Ingrid recebeu ontem do presidente da França, Nicolas Sarkozy, as insígnias de Cavaleiro da Legião de Honra, dedicada por ela aos colombianos, em particular a seus companheiros de cativeiro na selva seqüestrados pelas Farc.

¿ Esta condecoração é para todos os que sofreram, os que não voltaram e os que continuam cativos e esperam voltar à liberdade ¿ disse, num ato realizado na sacada do jardim do Palácio do Eliseu diante de milhares de convidados para a festa por ocasião do dia da Queda da Bastilha.

Ao impor as insígnias de Cavaleiro da Legião de Honra em nome da França, Sarkozy disse a Betancourt, que tem nacionalidades francesa e colombiana, que ela é "um símbolo de esperança".

¿ Há mais de seis anos que nós a esperávamos. Bem-vinda ¿ acrescentou o presidente, ao se referir à libertação de Ingrid das "mãos de torturadores medievais em uma das florestas mais inóspitas do mundo".

Sarkozy, que homenageou também a família da ex-refém das Farc, pediu à Ingrid que fique "o maior tempo possível na França, onde está segura e é querida".