Título: Dantas entra e sai calado de depoimento
Autor: Ignacio, Laura ; Correia, Karla
Fonte: Jornal do Brasil, 17/07/2008, País, p. A3
SÃO PAULO
O banqueiro Daniel Dantas prestou depoimento, ontem, na sede da Polícia Federal (PF) em São Paulo, ao delegado Protógenes Queiroz. Dantas, acusado de crimes contra o sistema financeiro e de tentar subornar um delegado da PF, chegou às 15h, com uma hora de atraso, e deixou o prédio às 18h20 sem falar com a imprensa.
De acordo com o seu advogado, Nélio Machado, Dantas se manteve calado durante o depoimento, "dando apenas respostas de cortesia". Segundo Machado, o silêncio do acusado não significa admissão de culpa. Ele negou que essa postura represente hesitação em relação à PF.
¿ Estamos usando um direito previsto constitucionalmente ¿ argumentou.
Segundo ele, Dantas não foi questionado sobre a suposta tentativa de suborno. Machado criticou o que chamou de "perseguição" a seu cliente.
¿ Não vivemos mais sob o AI-5 (medida de exceção tomada pelo governo Costa e Silva durante a ditadura militar), o Muro de Berlim (símbolo da Guerra Fria) já caiu, e é preciso acabar com essa caça às bruxas ¿ acusou. ¿ De repente, meu cliente passou a ser relacionado até ao caso do mensalão (pelo qual deputados vendiam seus votos mediante pagamentos mensais), no qual ele nunca havia sido citado. Isso é perseguição
Perguntado sobre por que o banqueiro adotava medidas de segurança como a mudança constante de números de telefone (utilizando, inclusive, dígitos referentes ao sistema europeu) e códigos durante as conversas, Machado desconversou e não explicou o assunto. Ele lamentou, ainda, a apreensão do disco rígido do computador de Dantas:
¿ Não para que se pudesse esconder algo ilícito, mas porque há dados relativos ao sigilo bancário, que não poderia ser quebrado.
Segundo Machado, o acusado não foi indiciado pela PF.
¿ Ele não é réu. A autoridade policial disse que em novo depoimento, em que outras pessoas serão ouvidas, ele decidirá se vai indiciar.
Dantas foi preso pela PF duas vezes na semana passada em decorrência da Operação Satiagraha, que revelou um esquema de fraudes ao sistema financeiro, mas o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, lhe concedeu habeas-corpus de soltura em ambas as ocasiões.