Título: Combustível e alimentos inflam os preços nos EUA
Autor: Costa, Gabriel
Fonte: Jornal do Brasil, 17/07/2008, Economia, p. A17

THE NEW YORK TIMES

Quase tudo em que os americanos gastaram dinheiro no mês passado ¿ de comida a eletricidade e gasolina ¿ tomou uma fatia maior dos salários deles. A inflação em junho subiu na mais rápida velocidade em 17 anos, informou ontem o governo dos Estados Unidos, um dia depois de o presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, alertar para a ameaça significativa que a inflação representa para o cenário econômico do país.

O índice de preços ao consumidor (CPI na sigla em inglês), que mede preços de um grupo de produtos comuns de uma casa, teve alta de 1,1% em junho, segundo o Departamento de Trabalho dos EUA. O aumento coroa um ano em que a inflação subiu a proporções que, segundo alguns, ameaçam a estabilidade da economia americana. Nos últimos 12 meses, o índice de preços subiu 5%, maior variação ano a ano desde maio de 1991.

O relatório reforça o que muitos economistas, incluindo os do Fed, alertaram há meses: os americanos estão sendo obrigados a pagar preços muito altos mesmo com o fraco mercado de trabalho e a demissão de milhares de empregados por grandes empresas como a General Motors. Trabalhadores dos EUA estão cada vez mais prejudicados, resume Richard Moody, economista da Mission Residential.

Em junho, a inflação acelerou quase duas vezes mais que em maio, quando o índice subiu 0,6%. Foi o maior ganho mensal do indicador de inflação desde setembro de 2005.

Pelo segundo dia, o presidente do Fed, Ben Bernanke, reiterou sua preocupação, dizendo que a inflação continua muito alta. Os riscos para o cenário inflacionário se intensificaram ultimamente, informou Bernanke aos legisladores, uma vez que os preços crescentes de energia e de outras commodities levaram a alta drástica da inflação.

A prioridade do Fed, segundo Bernanke, era trazer a inflação para um nível aceitável com estabilidade dos preços.

À medida que avançamos, conta o presidente do Fed, meus colegas e eu teremos de ver como os dados vão chegar e como o cenário está mudando, e tentar achar a política que melhor equilibra esses riscos e atinge a meta de crescimento sustentável e estabilidade de preços.

Energia e transporte

A alta do índice deriva amplamente do preço recorde do petróleo bruto, que elevou o preço da gasolina em mais de 10% no mês passado. Os preços da energia subiram 6,6% e os do transporte, 3,8%. A energia para residências e os serviços públicos custaram 1,8% mais em junho do que em maio, e o custo da habitação aumentou em 0.5%. Também subiram os preços dos alimentos (0,8%), tabaco (1,5%), e aluguel (0,3%).

Tirando os alimentos e energia, o índice puro subiu 0,3% no mês passado, um pouco mais do que os economistas previram. O núcleo da inflação, que desconta dos preços de alguns produtos a sazonalidade, está 2,4% mais alto em comparação a junho de 2007.

O Fed alertou para inflação mais alta há meses, apesar de Bernanke ter dito que o país não enfrenta as altas de preços da década de 1970.

Mas os relatórios econômicos da semana falam da difícil situação enfrentada pelos formuladores de política. Um índice de vendas de varejo, divulgado na terça-feira, mostrou que o consumo quase estagnou, sinal de que o crescimento econômico está desacelerando. Mas o Fed não pode baixar taxas de juros sem arriscar causar mais problemas inflacionários futuros.