Título: A encruzilhada de Ben Bernanke
Autor: Costa, Gabriel
Fonte: Jornal do Brasil, 17/07/2008, Economia, p. A17

Preocupado com inflação, banco central dos EUA hesita em elevar juros de 2% para não prejudicar consumo

Gabriel Costa

O presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Ben Bernanke, disse ontem que a inflação nos EUA está "muito alta" e reafirmou que a meta do banco é garantir a estabilidade de preços. Se a inflação continuar a subir, o Fed estará diante de uma encruzilhada, ao ser forçado a aumentar a taxa de juros de 2% ao ano. A atitude comprometeria o já combalido crescimento da maior economia do mundo.

De acordo com a ata da última reunião do Fed, divulgada ontem, os membros do Fomc (o comitê de política monetária dos EUA) avaliaram que, com os riscos e expectativas de inflação, a próxima mudança na postura da política pode ser um aumento na taxa básica de juros, mas concordaram que as perspectivas para os preços e para o crescimento ainda são incertas.

¿ A direção que o Fed vai tomar depende da alta das commodities. O ideal seria que o barril do petróleo caísse abaixo de US$ 120, e os metais também recuassem. Mas uma alta acima de US$ 150 obrigaria o Fed a elevar os juros ¿ avalia Rafael Moyses, gestor de renda variável da corretora Umuarama.

Para Moyses, a chance de aumento dos juros é pequena, pois a tendência é que os preços das commodities recuem um pouco, o que refletiria na inflação americana. Ele disse ainda que, embora o terceiro trimestre ainda deva ser "complicado" para os EUA, o próximo tende a apresentar um crescimento maior do que os anteriores.

O presidente do Fed disse que a alta dos preços das commodities se deve "a fatores fora do controle do Federal Reserve".

O petróleo fechou ontem em US$ 134,60, um recuo de mais de US$ 15 em relação ao preço recorde, US$ 147,27, atingido na sexta-feira. O aumento de 3 milhões de barris no estoque dos EUA ajudou a diminuir o preço da commodity.

Maior alta desde 2005

O Departamento do Trabalho americano informou ontem que o índice de preços no atacado (PPI) subiu 1,8%. No acumulado dos 12 meses até junho, a alta foi de 9,2%, o maior avanço na comparação desde 1982. Já o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 1,1% em junho, no maior avanço mensal desde 2005. O aumento no indicador foi causado pela subida de 6,6% nos preços da energia, depois de uma alta de 4,4% em maio. Os preços dos alimentos subiram 0,8%, depois de alta de 0,3% em maio. Nos 12 meses até o mês passado, a alta acumulada foi de 5%, no maior avanço desde 1991. O núcleo do índice, que exclui os preços de energia, na mesma comparação, teve alta de 2,4%.

Bernanke disse que os EUA precisam de uma estratégia para seu suprimento de energia e que "teria sido melhor ter lidado com essa questão há algum tempo". Para o presidente do Fed, uma estratégia sobre energia poderia ter um efeito benéfico sobre os preços no curto prazo, se menos preocupações sobre oferta e demanda se refletissem sobre as cotações.

Bernanke disse também que uma intervenção no câmbio deve ser feita apenas raramente, se algo extraordinário acontecer no mercado, e que espera que o dólar reflita um melhor desempenho da economia a médio prazo..

A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, informou ontem que o presidente George W. Bush, tambem está preocupado com o impacto das altas de preços.