Título: Celular de R$ 199 sai de linha
Autor: Thaís Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2005, Economia, p. A17
Em busca de rentabilidade, operadoras mudam de estratégia e preços aumentam 50% em apenas dois meses
O mercado de telefones celulares deste ano está estimado em pelo menos 17 milhões de aparelhos, conforme as previsões dos fabricantes que atuam no Brasil. Mais da metade da expansão deverá ser sustentada pela conquista de novos usuários. O restante resultará da substituição de aparelhos antigos. A ordem de grandeza dos números não é nada desprezível e confere relevância internacional ao mercado brasileiro, não apenas por sua dimensão atual, mas também pelo potencial de expansão. Apesar das cifras invejáveis, as operadoras de telefonia móvel do país decidiram, em conjunto, colocar o pé no freio e a tendência é de que o crescimento, neste ano, ocorra em velocidade sensivelmente mais baixa do que a do ano passado. No início de fevereiro, os aparelhos mais baratos passaram a R$ 299 em dez parcelas. Em janeiro, eles estavam a R$ 249 e, antes, em dezembro, a R$ 199, sempre parceladamente.
A alta em todas as marcas de aparelhos e operadoras funciona como barreira de entrada de novos clientes. É resultado de uma postura recém-assumida pelas empresas, assustadas com a queda da rentabilidade que marcou os dois últimos trimestres do ano passado.
Pressionadas pelos acionistas espanhóis, italianos, portugueses e mexicanos, além dos brasileiros, as operadoras deram uma guinada brusca na estratégia. A BrT (Brasil Telecom) é a única empresa a manter os preços baixos e certamente o faz, segundo executivos do mercado, por ser a quarta e mais nova operadora de sua área de atuação.
A virada estratégica das celulares deve-se ao peso dos gastos com subsídios até outubro do ano passado. Eles provocaram baixa significativa nas margens de rentabilidade de todas as companhias. O nome do jogo - costumavam dizer - era ''fatia de mercado''. Este ano, contudo, passou a ser ''rentabilidade''.
E o telefone celular popular surge como o principal atingido pela mudança de rumos. Ele foi o responsável pelo crescimento acelerado do contingente de clientes do ano passado, que em 12 meses saltou de 46 milhões para 65,6 milhões, conforme a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgou em dezembro. Aos 19 milhões de novos usuários devem ser somados cerca de 6 milhões de aparelhos vendidos para substituir telefones antigos.
Cabe aos fabricantes, daqui para a frente, adaptaram-se às novas condições impostas pelas donas do jogo, as operadoras.
- É preciso ter agilidade e portfólio variado - afirmou Claudio Raupp, vice-presidente e gerente geral da divisão de celulares da Nokia, gigante finlandesa que detém cerca de um terço dos mercados mundial e doméstico. - Vamos acelerar as exportações.
Segundo o executivo, as empresas menores serão mais atingidas pelas repercussões da mudança.
- É um mercado fácil de entrar, mas difícil de se manter. A alta demanda passada disfarçou este fator, o que poderá provocar dor de barriga em muita gente.
Entre as empresas que terão de recuar na agressividade por novos clientes figuram a chinesa ZTE, a brasileira Aiko-Evadin e a espanhola Vitelcom, que agora estão enfrentando a suspensão de encomendas das operadoras, cuja justificativa é o encalhe.
O Natal ficou abaixo das expectativas, embora tenha registrado a venda de mais de 4 milhões de aparelhos, uma quantidade típica da China, mas inferior ao Natal de 2003. As operadoras foram mais conservadoras nas promoções do Natal e por isso muito telefone popular encalhou.
Como os mais sensíveis a subsídios são os pré-pagos, que ocupam mais de 80% da planta brasileira, eles amargaram a maior parcela do recuo.