Título: Indústria à espera do consumo
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2005, Economia, p. A18

Setores que cresceram pouco em 2004 aumentam investimentos apostando no mercado interno

A repetição do bom resultado da indústria neste ano dependerá de fatores como investimentos na expansão da capacidade, emprego, renda e infra-estrutura. A opinião é do economista e chefe do Departamento de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, hoje dividido entre otimismo e cautela. O entusiasmo na divulgação do maior salto da indústria em 18 anos, ocorrido em 2004, ofusca alguns alertas para o setor. O aumento de apenas 3,4% na produção de metalurgia - bem abaixo dos 8,3% de média da indústria - desperta Sales para falar em gargalos.

- A dificuldade é dizer para onde estão indo os investimentos. Não conseguimos identificar se as encomendas de bens de capital (máquinas e equipamentos) estão sendo realizadas pelos segmentos que de fato precisam ampliar a capacidade instalada.

Num momento em que o preço do aço aumenta no mercado internacional, a produção das siderúrgicas brasileiras não acompanha o ritmo de expansão do país.

As indústrias farmacêuticas (0,9%) e de calçados (2,3%) também registraram aquecimento aquém da média, mas por outros motivos. O aumento da ocupação só começou a se traduzir em maior produção de bens não-duráveis no fim de 2004.

Para Sales, a indústria pode estar entrando, neste ano, num novo padrão de crescimento, mais voltado para o consumo interno. No ano passado, os segmentos que cresceram com mais vigor não dependeram exclusivamente da demanda interna, e foram favorecidos por fatores como a queda dos juros no primeiro semestre, o salto das exportações e a injeção de investimentos na economia.

O salto de 19,7% na produção de bens de capital tem como base os investimentos em expansão industrial, mas há mais que isso nas entrelinhas. Há cinco anos no comando dos indicadores de indústria do IBGE, Sales aponta o calendário eleitoral como um dos responsáveis pela expansão. No segundo semestre, a produção de bens de capital para a construção cresceu 48%, como nenhum outro subsetor. No ano, os bens de capital encomendados pelo governo cresceram 38% em relação a 2003, ante os 16% da indústria. A seguir, entrevista com Silvio Sales.